Semana passada recebi uma recomendação médica inusitada: nos próximos 60 dias devo me masturbar 20 vezes.
Fiz vasectomia e em junho farei um espermograma para confirmar se estou estéril e finalmente livre do fantasma da paternidade, maior medo da minha vida. Tô até evitando pensar no constrangimento de fazer esse exame pra não ficar ansioso e brochar em pleno Hermes Pardini…
As vinte ejaculações são necessárias para limpar o canal e desabrigar qualquer espermatozóide sem noção, insistente em fazer hora extra na casa do caralho.
Matematicamente falando, é uma sovada no Elon Musk a cada três dias.
Parece fácil, mas aos 45 anos já não sou nenhum garoto. Minha testosterona está numa média baixa. Tadalafila e Boston Medical Group que me aguardem.
Além do mais, a obrigatoriedade tira o tesão e o clima do hand job, que só é gostoso se for livre e descompromissado, num banho quentinho e demorado.
Meu pinto, minhas regras, ok? Urologistas: não passarão!
Como se não bastasse, depois da cirurgia meu Pablito ficou irreconhecível, com mais hematomas que Rocky Balboa ao fim da luta com Apollo Creed. Eu que pensava que a bolsa escrotal era mais feia que esse seu nome técnico, agora carrego o Slot, personagem do filme Os Goonies, dolorido entre as pernas.
Minha voz da consciência me diz que é karma. Dias atrás eu estava zoando o picolé napolitano do Alexandre Frota…
E eu que acreditei na conversa fiada de que fazer vasectomia era quase tão tranquilo como tomar um frappuccino de chocolate no Starbucks? Que ódio! Desejo eterna disfunção erétil a todos que me enganaram com essa fake news.
Além da dor o que me encabula é pensar de onde vou tirar inspiração e hormônios para agitar 20 Toddynhos?
Seria uma tarefa fácil quando eu era adolescente. Quem, como eu, viveu na era pré internet sabe que a dificuldade em acessar conteúdo erótico não impediu uma geração de homens criados à mão.
Nos anos 90 até pra se virar sozinho era difícil. O que tínhamos à disposição era um sonho, cinco dedos e uma Playboy com as páginas coladas.
No desespero já recorri as revistas Hermes e Avon, uma espécie de Playboy de pobre. Olhando as modelos de calcinha e sutiã com a visão além do alcance, era possível pegar um lancinho entre as rendas. Daí era só thunder… Thunder… THUNDERCATS, HOWWWWWW!!!!
No mais, era ficar atento nas novelas das oito, onde sempre rolava um seio de fora. Com sorte, dois. Ou ficar de butuca acordado até tarde na esperança de assistir uma nudez mais picante nas minisséries da Globo e ver Zé Mayer fazer na ficção o que eu sonhava fazer na vida real.
Era pouco e era humilhante, mas era o que tinha.
O desespero juvenil inspirava a criatividade de meus amigos. Juninho Natureza certa vez foi pego no flagra dando créu em uma almofada macia, gostosa, inocente e desprevenida.
Em busca de inspiração pro 5×1, Tôfofo comprou uma calcinha nas Lojas Americanas. Não satisfeito, pegou um tubo de condicionador Neutrox, cortou o bico, e aproveitando o resto do produto como lubrificante, criou sua pepeka caseira.
Dudu Bolinha também não ficava pra trás, as cinco e pouca da tarde ele já estava com uma mão no controle remoto e outra no carinho, assistindo as garotas do programa Fantasia, do SBT. Até depois de velho, o filho do Bernardino não resistia ao desfile de lingerie do SuperPop, da Rede TV.
Sabedora da demanda de seu público por baixaria, o programa realizava o desfile durante o Show do Intervalo do futebol de quarta, na Globo. Para Dudu Bolinha os melhores lances eram sempre do SuperPop.
Depois do desfile, o programa apelava de vez e promovia debates de temas polêmicos e moralistas, com especialistas em vários nadas.
É bem provável que em 2011, Dudu Bolinha, com a cueca melada, tenha assistido ao mais hilário e infame momento da TV brasileira. Aqui nossa tragédia fascista se anunciou.
Anos depois do debate destes cinco personagens de rodapé; a apresentadora Luciana Gimenez, o jornalista Felipeh Campos, o cantor Agnaldo Timóteo, a ex-BBB Moranguinho e o Debatedor do SuperPop, o palhaço autoritário se elegeu.
Quem curtir uma sacanagem pesada não pode perder essa gang-bang com o Brasil.
Tenho a teoria de que o homem nasce bom e justo, mas os hormônios, a Banheira do Gugu, a Luana Piovani e o XVídeos o corrompem.
A testosterona é um hormônio absolutamente sem caráter, transforma seres de luz em machões-de-porta-de-padaria. Desprovidos de sentimentos, noção e da mínima responsabilidade afetiva, eles basicamente só sabem coçar o saco, cuspir no chão e chamar de gostosa toda mulher que passar pela rua.
É triste andar pela rua Guaicurus e ver pais de família transformados em zumbis, num sobe-e-desce inconsciente pela droga do prazer, em nossa versão DST belorizontina de The Walking Dead.
Semana passada, de repouso da cirurgia, assistia ao programa A Tarde é Sua. Confesso que notei que a Sônia Abraão tem um shape legal. Decotada, a apresentadora fica deveras sensual falando da vida alheia com seus finos lábios, maquiados à moda Bizantina Scatamacchia Pinto, a velha surda de A Praça é Nossa.
Daí ela chamou o merchan e de repente apareceu a Aracy da TopTherm. Rapaz, naquele momento eu passei a acreditar que o Ômega 3 e a iogurteira que ela vende, de fato, fazem milagres. Cá entre nós, na moralzinha mesmo, dona Aracy tá enxuta. É uma morena altamente cremosa. É praticamente uma Sophia Loren da Carreta Furacão.
Tentando frear pensamentos lascivos, mudei de canal. Mas eis que na TV Gazeta me aparece ninguém mais ninguém menos que a Cristina Volpato. Aí é foda.
É muito difícil ser homem nesse mundo cruel.
Subitamente Pablito, que vinha mais parado que saci de patinete, começou uma intensa queda de braço com a cueca. Foi uma cena linda e emocionante. Vencedor, ele se ergueu com a mesma altivez que o centroavante Reinado, o Rei do Galo, comemorava seus gols. De punhos cerrados, Pablito desafiava as dores da cirurgia tal como Reinaldo desafiou a Ditadura Militar Brasileira.
Seu gesto heróico me dizia: conta comigo, Tadeu. EU AINDA ESTOU AQUI!
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Amei o texto, senso de humor incrível. Em meio à dor, óbvio kkk
Obrigado, Elisabeth.
Só me restou fazer humor pra transcender a dor, o susto e o constrangimento.
Abc!