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Meninas poderosas

Silvia Ribeiro

Ando me distraindo com as minhas doidices. Sei lá! Elas sempre me divertem e aumentam as páginas da minha história.

Ao longo dos anos elas se apresentam diante de mim cheias de glamour e me contam coisas incríveis. Cuidam do meu bem-estar como pouca gente sabe.

Tudo bem, que elas as vezes são um tanto quanto turronas e acham que têm o direito de decidirem por mim — indisciplinadas, eu diria.

Espero que elas um dia descubram que eu sou osso duro de roer.

Aí, vem aquela frasezinha clichê: “a vida me fez assim”.

Mas enfim, deixando as rusgas e os melodramas de lado, vamos ao que interessa.

Elas são deliciosas, fazem do limão uma limonada e das alegrias uma colcha pra enfeitar a casa, me olham de forma singela e realizam poesias só pra me agradar. O maior problema é que elas adoram fazer umas comprinhas, mesmo quando eu tento desviar.

Livres e lépidas, são ousadas por parte de mãe, de pai, de avós, e um algo a mais que vem embutido na genética e que me faz lembrar aqueles amassos atrás da igreja. O santo e o pecado.

Visivelmente agradáveis e elegantes, me estimulam a olhar as pessoas de um jeito menos estranho, e a não me esquecer de quem eu sou de verdade. Tem dias que elas são mais ser humano e em outros parece que vieram do além.

Não precisam provar nada pra quem quer que seja, tampouco tem hora pra voltar pra casa, e o melhor é que sabem conviver com o chato sem peso nas costas. Mas de vez em quando resolvem sofrer e reunir um monte de lágrimas à sua volta.

Eu acho esse jeito indócil um luxo. E desconfio que essa travessia entre diversos sentimentos é o que as torna mais fodas.

Sei, que posso contar com as suas expertises intuindo os meus passos, com as suas bolas de cristal adivinhando os meus desejos, e com os seus sins fazendo cafuné na minha cabeça.

Penso, nas coisas que elas me dizem, no colo que elas me emprestam, nas culpas que elas assopram, nas bagunças que elas aprontam, e nas saudades que elas dão nome.

Gosto, do jeito que elas manuseiam o bambolê na minha cintura sempre que eu preciso de um chega pra cá, do modo que elas inventam palavras quando nem eu mesma sei o que dizer, e da maneira simples com que elas demonstram fragilidade.

Sorrio, com os amores que elas me trazem sem a menor garantia que irão valer a pena, das suas filosofias de relações baseadas em seus livros de infância, e do cuidado que elas têm com o meu coração quando esse resolve se machucar.

Costumo chamá-las de —”minhas meninas poderosas”.

E peço a Deus:

Por favor! Não deixe essas meninas longe de mim.

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