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Daniela Piroli Cabral
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Heráclito já dizia: “Nada é permanente, exceto a mudança”, – para se referir à efemeridade e ao constante movimento que a vida nos exige.

Passamos por perdas e crises que, com certa frequência – e muitas vezes sem a nossa deliberada vontade -, nos obrigam a mudar, redefinir valores e visões de mundo, buscar soluções criativas e restabelecer novos rumos antes nunca pensados.

Muitas vezes sofremos, sentimos que a dor demora a passar. Às vezes, nos percebemos “presos”, com a sensação de estar “andando em círculos”, depois de passar por aquelas perdas difíceis de “digerir”. 

Isso vale para a perda por morte, para fim de relacionamento e para mudanças no trabalho, como demissões e aposentadoria. Vale até mesmo para o processo de envelhecimento, no qual vamos aos poucos assimilando as perdas físicas decorrentes do passar do tempo.

O processo de luto demanda um tempo maior do que a nossa própria ansiedade permite e do que a nossa sociedade define como “normalidade”. 

Atualmente, um rebaixamento do humor por mais de duas semanas já pode ser diagnosticado como um “episódio depressivo” e, consequentemente, ser medicado. Mas, por mais simples que seja uma perda, duas semanas é um tempo muito curto para que o luto se realize. 

Não há espaço cronológico que defina o luto. Ele é mais um tempo psíquico de desinvestimento afetivo libidinal do objeto perdido e um processo de reinvestimento em novos objetos externos. As perdas precisam ser assimiladas, bem como os possíveis ganhos decorrentes deste processo. 

Aqui, cabe diferenciarmos as crises evolutivas das crises circunstanciais. As primeiras referem-se aos processos de perdas e mudanças “esperadas” durante o desenvolvimento do ciclo de vida e que terminarão com a “evolução” da personalidade: infância e alfabetização, adolescência e “transgressão”, casamento e crise de intimidade e liberdade, nascimento de filhos e “redefinições” de papéis, entre outros. 

Já as crises circunstâncias são decorrentes de eventos inesperados, dos quais não temos controle, que nos deixam sem palavras, sem reação (ou, ao contrário, nos fazem impulsivos), sem recursos.

Muitas vezes, tais crises se apresentam como eventos agudos, intensos, dilacerantes, o que também costumamos chamar de “trauma”.

Mudar não é ruim – é necessário para nos mantermos vivos, enquanto sujeitos desejantes. O que muitas vezes acontece é que estamos presos e imersos em ilusões de controleposse e eternidade, o que nos impedem de renunciar e de abrir mão daquilo que relutamos em perder.

Para saber mais:

  • FREUD, S. Luto e melancolia (1917). In:. A história do movimento psicanalítico: artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Direção-geral da tradução de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 249-263.
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