Uma crônica comporta relato além do que vivenciamos na realidade. Contudo, o que vou falar é pura realidade de uma vila.
Certa manhã, acordei para fazer uma filmagem/recitação da minha poesia A terceira margem das águas. Escolhi recitá-la à beira do mar, onde o rio Barrinha deságua no oceano Atlântico – cenário perfeito para o poema. Nascer do sol, os barcos que levam os pescadores, as águas que cantam. Embriagada com uma bela cantante da natureza, caminho e aí entra a inspiração para essa crônica.
Meus ouvidos são capturados pelo som de um cavaquinho, isso às 05h45min da madrugada. Detalhe: nesse dia de final de verão, o sol colocou seu primeiro olhar para essas terras às 05h38min. Ao escutar um som além do da natureza, observo de onde ele vem, deparo com um músico sentado numa canoa tocando seu instrumento. Quis saber se era da roda de chorinho. Informou-me que estava aprendendo ainda.
E a musicalidade de Cumuruxatiba é assim – sempre uma boa surpresa que vai além dos sons das águas, dos pássaros, do vento, das abelhas, etc. – que adoro também. A roda de chorinho está virando tradição e acontece toda segunda no Gelato, sorveteria/café local. É formada por voluntários que propagam a música em Cumuru – como é carinhosamente chamada. Ela é a mais nova formação musical, pois ali tem os preciosos tambores. Esses ecoam com o Batuk Cumurim que é um projeto que já ocorre há vinte anos. Nele, as crianças e jovens aprendem e apresentam fazendo os tambores baianos soarem toda semana. Já outro grupo o Maracatiba, de maracatu, ecoa aos ventos rufando as caixas e cantos.
Fazendo parte da tradição sonora, os grupos se apresentam nas barracas de praia como a Porto Belo, Maricota e Casa de Minas. Todos os sábados, à tarde, a Porto Belo acolhe esses músicos. Atualmente, eles são: Maré de Samba, Carol Tavvares e Banda, Brasilidade, Forró de Pife – do Pife Nordestino, mais conhecido regionalmente como pífano, é uma adaptação nativa, com influência indígena, das flautas populares europeias.
Não posso deixar de lembrar da herança musical deixada pelo Mestre Dema e dos músicos que são professores de violão, tambor e flauta. Também, a alegre presença de um dos maiores gaitistas do Brasil – Jefferson Gonçalves, que mora na vila e sempre está dando uma canja. A musicalidade também retorna nas aldeias indígenas locais em especial a Tibá.
Quero deixar uma homenagem especial para todos os músicos na pessoa de Dani do Aiê. Nativa que porta um vozeirão e quando canta enche o ambiente ocupando com sua voz os espaços daquela natureza exuberante de castanheiras, mar, sol, lua, estrela, brisa…
Salve a musicalidade de Cumuruxatiba!
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Super apoio no que estiver em meu alcance
Em cada canto dessa terra, as sementes/cantos fecundam a oralidade poética dessa terra luminosa de areias pretas que cintilam a majestosidade ancestral afro-indígena.
A métrica não dá conta de medir tantos cantos, versos, reversos, ecos que refletem e refratam nos gigantes argilosos, nunca adormecidos, que aos escutar tão graciosa melodia dessa terra, por vezes, descem para beijar as águas.
Teus versos, Sandra B, foi uma bela provocação matinal, Adupé.