Buldogue, pés de galinha, código de barras, bigode chinês. Todo um vocabulário para ilustrar o envelhecimento do rosto. A medicina tem essas manias. Inventa nomes para os sinais clínicos fazendo analogias com coisas de aparência semelhante.
Tem o bico de papagaio na coluna, os dedos em pescoço de cisne do reumatismo, o sinal da borboleta ao RX de tórax e, meu preferido, as pérolas de Epstein no palato do recém-nascido.
Tenho a impressão de que alguns desses termos soam levemente pejorativos. Talvez ser pejorativo seja pré-requisito para requererem tratamento. Se fossem correlações bonitas, não iríamos querer que fossem embora.
Mesmo assim, há quem conviva bem com sua marionete no rosto, com as moscas volantes nos olhos, com as manchas café com leite no corpo ou com suas unhas em vidro de relógio. Há quem nem saiba que possui tantos símbolos em si mesmo.
Na pediatria, checamos os reflexos do paraquedista e o do esgrimista para avaliar o desenvolvimento do bebê. Interessante notar que nomes de atividades tão complexas sejam associados ao exame clínico nos meses mais iniciais da vida. É assim mesmo que funciona. A Semiologia também tem um lado motivacional e instigante.
Quem pensaria que o sinal do guaxinim nos olhos ou o do miolo de pão ao raio-X de abdome seriam indícios perigosos? De certo, não se pode confiar em um nome. E muito menos em uma representação imaginária. Por isso, o pescoço de touro e a língua em framboesa não são em nada elogiosos. O dedo em botoeira ou em martelo muito menos. E o sinal da bailarina, quando presente, desaconselha a prática do balé…
Ainda assim, essas comparações são tentativas de simplificar um pouco a vida. Muitas delas nos aproximam de elementos da natureza. Também são maneiras de lembrarmo-nos de nossa condição finita. A pele em casca de laranja perde a conotação biônica, lembra algo perecível. E entre perecer e resistir às ações do tempo, seguimos preenchendo o nosso álbum de figurinhas.