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Realidade

Silvia Ribeiro

As vezes fica difícil lidar com a nossa realidade.

O desconforto é tamanho, que parece se tratar de um verdadeiro monstro que surge do nada pra tirar a nossa paz. E não raro, nos paralisa, se apropriando indevidamente da nossa valentia.

A gente começa a observar, e tudo a nossa volta é chato, é feio, e é bobo.

Pra não dizer que ela dispensa um destaque no nosso mau humor, e que cotidianamente nos chama pra uma queda de braços, ainda possui crateras imensas querendo fazer dos nossos dias um inferno particular.

Enquanto do outro lado do portão a realidade funciona como um comercial de margarina colorindo o que parece sem cor. Tão envolvente que dá gosto ver.

As pessoas são lindas, gentis, e cheirosas. Os débitos estão em dia, o corpo está em forma, e a saúde vai bem, obrigada.

Pra responsabilizar os exageros e as utopias, o amor ainda desempenha o seu papel magistralmente.

No meio da tarde tem chá com torradas e geleia de framboesa sendo servido por alguém que esbanja simpatia. E pra essa realidade ficar ainda mais invejada, tem um cochilo na rede ao som dos passarinhos cantores.

Imagina viver uma vida assim?

Voltamos pra dentro e vem a pergunta: como me comporto quando o meu céu fica nublado?

O que não pode acontecer é pegar uma dessas canetas “marca texto”, e sublinhar o que não deu certo. Tampouco transformar esses dias “ditos ruins”, no nosso desjejum.

Pense que o hoje é sempre mais legal e que só precisa da nossa respiração.

O ontem é temperamental porque quer dominar, carrancudo porque lhe falta traquejo, inatingível porque decidiu ser assim. E tem lá as suas excentricidades, que é melhor nem colocar na conta. Saudade é uma delas.

É bom saber que aquele comercial livre de barreiras e de defeitos só sobrevive na tela. Logo após os seus poucos minutos de grandeza morre sem deixar vestígios.

Nem tudo que envolve as nossas frustrações deve ser um caos, e nem todos os nossos problemas precisam estampar a capa do jornal. A definição depende de como escolhemos pensar nas nossas emoções, e do quanto de gratidão aplicamos nos nossos discursos.

Na dúvida, seja amiga(o) da sua realidade.

Decida por um chinelo havaianas bem confortável, ou coloca uma roupa daquelas que vivem no fundo do armário, e que a gente quase não usa. E no entanto, tem uma história boa na ponta da língua pra contar.

Comece a vivenciar a vida como uma criança que não sabe se tá certa e come todas as balas do pacote. E em contrapartida se sente a criatura mais feliz do mundo.

Vá por aí ocupar os seus olhos de coisas bonitas.

Comigo sempre funciona.

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