Venham! Venham!
Que gritaria era aquela?
Se tratava do ilustre mexeriqueiro de uma pequena vila, por esse mundão de meu Deus.
O alvoroço tomou conta daquele lugar como um rastro de pólvora, fazendo com que as pessoas corressem pra ver o que estava acontecendo.
As comadres não resistiam e de olhos arregalados apareciam na janela. Um verdadeiro desfile de rolinhos e meias nos cabelos. Cremes melecando o rosto e tudo de mais esquisito que podia existir.
“Fala logo, cabra desvairado, ou eu arranco a sua língua com as minhas unhas!” – era um dos comentários calorosos que envolviam aquele arsenal de curiosidade.
Com a respiração ofegante e quase não se segurando nas pernas, o assunto foi despejado ali mesmo, antes que algum valentão quisesse fazer valer a sua identidade de macho.
“Como era a tal mulher?”
Ela não era muito alta, tinha o cabelo preto, com uns cachos que brilhavam como se tivessem luzinhas dentro deles.
O silêncio tomava conta daquele ambiente como num passe de mágica, e naquela euforia parecia que ninguém tinha pálpebras para piscar.
Usava um vestido bem vermelho que balançava junto com o vento, pra lá e pra cá, e um sapato que dava a impressão de andar sozinho.
E não parou por aí.
Ela tinha um cheiro de lavanda fresca e seus lábios pareciam cor de amora.
Até que, num certo momento, alguém quebrou aquele encanto e quis saber mais.
“Como era a parte de cima do vestido?”
Os seios eram fartos e pareciam saltar do soutien, e na sua cintura tinha uma fita larga presa dando a impressão que apertava.
Ela me disse que estava com sede e me pediu pra pegar uma bebida.
A sua voz era rouca e pausada, quase não conseguia entender.
Saí depressa pra buscar a bebida e, quando cheguei, ela estava sentada numa daquelas cadeiras que ficam ali perto da vendinha.
Eu me sentia um pouco sem jeito perto de uma mulher tão diferente e bonita. E ela parecia se divertir com a situação mostrando os dentes alvos e alinhados.
As pessoas me observavam e não respondiam aos meus cumprimentos. Num determinado momento, estranhei quando ouvi uns cochichos dizendo que eu estava falando sozinho. Devia ser inveja e eu não tinha tempo pra perder com aquilo.
Tinha gente que passava e dizia: -credo, isso parece coisa de fantasmas.
Me aproximei e quando fui entregar o copo, quase morri.
“O que houve?”
“Fala! Fala!”
Ela cruzou as pernas.
“E daí?”
“Fala logo, seu filho da mãe!”
O pobre coitado tremendo feito vara verde não teve escapatória, e berrou pra quem quisesse ouvir.
Ela não usava calcinha.
“O quê?”
“E por onde ela foi?”
Tá ali mesmo, na rua debaixo.
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Muito bom ! Rzssss
Obrigada!
Parabéns querida jornalista e Escritora Sílvia Ribeiro!
Adorei o seu texto!
Envolvente e cheio de expectativas!
Prende o leitor do início ao fim!
Obrigada!
Fascinante ! Vc arrasa sempre !
Obrigada!