Categories: Sandra Belchiolina

Albatroz : um enigma

Boas surpresas surgem quando os olhos estão abertos para natureza. Do sussurro do mar que deu o nome a vila de pescadores no sul da Bahia – Cumuruxatiba, passa sobre minha cabeça um albatroz. Estava eu no mar ao som de: cumuru, cumuru, cumuru, assim como ele se apresentou ao índio que deu nome a localidade. O “Xatiba” faz parte da composição de origem onomatopeica de quando ele bate nas pedras e falésias.

É nessa tranquilidade das ondas do mar que avisto uma ave se aproximando, vindo do sentido norte para o leste. Passou bem próximo ao ponto de me permitir ver seu pico vermelho, sua plumagem branca e preta. Um gigante e identifiquei: um albatroz. Imagem linda! Ali acima de minha cabeça estava o agigantado dos ares, a maior ave do mundo, sua envergadura chega a 3,50 metros.

Passou silencioso. Silêncio de um voo migratório? É um dos habitantes de Abrolhos que acasalam no arquipélago? Está sozinho? Nesses pensamentos, avisto a outra, dentro da minha visão de mar, ela veio a mais leste, leste mesmo.

E o casal – acredito que seja um – plaina no mar. Suas poderosas asas permitem essa façanha. Sobrevoam em círculos, creio que procurando alimento, a maré estava baixa e provavelmente avistavam algo na barreira de corais. Li mais tarde que essas aves não são boas pescadoras. Tempos depois desistiram da empreitada e seguiram caminho. Eu também segui o meu, mas curiosa em saber mais sobre a espécie.

Descobri que são aves marinhas migratórias, que passam a maior parte de suas vidas no oceano. Pousam na costa ou nas ilhas para alimentar, reproduzir e cuidar dos filhotes. Normalmente cuidam somente de uma cria. No mundo existem 22 espécies e apenas seis delas interagem em águas brasileiras.

Certa vez assisti uma reportagem sobre Abrolhos e filmaram o acasalamento de um casal. Um ritual de oferenda de gravetos ao namorada(o). Esses são utilizados nas construções de seus ninhos.

Querendo saber mais sobre o albatroz, deparei-me nas pesquisas pela internet com o poema: O Albatroz, de Charles Baudelaire, poeta francês¹. Ele é considerado um “dos precursores do simbolismo e reconhecido internacionalmente como fundador da tradição moderna em poesia, juntamente com Walt Whitman”².

Baudelaire denomina o gigante dos ares oceânicos como “viajor alado”. Na poesia compara o desajeito do albatroz para caminhar em solo como ao do poeta, e, seu desajeito para as exigências da nova ordem imposta no seu tempo: Baudeilaire – 1821-1867.

Fiquei com o enigma de qual espécie de albatroz seriam os esnobes que passaram por mim. De onde vieram e para onde iriam? O que presenciei foi um espetáculo no mar e quero saber mais sobre eles.

Referências

1- https://www.escritas.org/pt/t/10965/o-albatroz

2- https://projetoalbatroz.org.br/pesquisas/albatrozes-e-petreis

Sandra Belchiolina

Share
Published by
Sandra Belchiolina

Recent Posts

Ainda pouca mas bendita chuva

Eduardo de Ávila Depois de cinco meses sem uma gota de água vinda do céu,…

11 horas ago

A vida pelo retrovisor

Silvia Ribeiro Tenho a sensação de estar vendo a vida pelo retrovisor. O tempo passa…

1 dia ago

É preciso comemorar

Mário Sérgio No dia 24 de outubro, quinta-feira, foi comemorado o Dia Mundial de Combate…

2 dias ago

Mãe

Rosangela Maluf Ah, bem que você poderia ter ficado mais um pouco; só um pouquinho…

2 dias ago

Calma que vai piorar

Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Depois que publiquei dois textos com a seleção de manchetes que escandalizam…

3 dias ago

Mercados Tailandeses

Wander Aguiar Para nós, brasileiros, a Tailândia geralmente está associada às suas praias de águas…

4 dias ago