O céu nublado. A chuva. O inverno. As folhas secas. As sombras. A destruição. O tédio. A tristeza. O vazio. A decepção. A indecisão. O esquecimento. O cimento. O concreto. A fumaça. A velhice. Os cabelos grisalhos. A dor. O sofrimento. A confusão. As doenças. O arrependimento. O lamento. A morte. As cinzas. Hoje é o dia delas. Hoje é dia do pó. Da terminalidade. Do fim.
O cinza é assim. Meio termo entre o contraste do preto e branco. Resultado da mistura de quantidades iguais de vermelho, verde e azul, ele é sem graça, sem movimento, sem energia, sem cor, sem brilho. Remete ao passado e à falta de perspectiva, de esperança.
Mas o cinza também pode ser chique, elegante, moderno, atemporal.
Há um certo mistério a ser desvendado no cinza. Nas pessoas “cinzentas”, “invernais”. Sua neutralidade ao mesmo tempo insossa e profunda exerce uma certa atração.
Woody Allen que o diga, quem assistiu a “Um dia de chuva em Nova York” irá concordar. O cinza é um cenário às vezes inspirador.
Ele já foi até referência de erotismo e sensualidade, com seus mais de 50 tons (na verdade, são 65 tons de cinza para ser bem precisa).
Recentemente, lendo o livro de Ana Cláudia Arantes, “A morte é um dia que vale a pena ser vivido”, descobri como o cinza pode ser colorido. Consciente, emocionante, belo.
O cinza pode ser a inspiração para vivermos melhor, para aprendermos a expressar o amor, para nos conectarmos com a gente mesmo.
Gosto da autenticidade do cinza. Pensar no cinza é pensar na morte. E está é a verdade inegável nele.
Ele é resultado de transformações importantes e inevitáveis, ele é consciência do passar do tempo e da nossa humanidade.
A consciência do cinza nos evita arrependimentos e nos traz uma existência mais plena.
“O jeito mais fácil de viver bem seria incorporar no nosso dia estas cinco nuances da existência: demonstrar afeto, permitir-se estar com os amigos, fazer-se feliz, fazer as próprias escolhas, trabalhar com algo que faça sentido no seu tempo de vida, e não só no tempo de trabalhar” (Arantes, A.C. 2019, p. 153).
Hoje é o dia gris, dia do cinza. Dia de terminar a festa, de acabar com o glitter, com o confete e a serpentina.
Dia de iniciar a quaresma, a limpeza, a promessa, a introspecção. Hoje é dia de nos lembrarmos da nossa própria finitude e daqueles que estão conosco.
E você, o vai ver quando chegar no muro?
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