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Massagem

Silvia Ribeiro

Não sei lidar com alguns arranhões que o destino me impõe, nem com essas variações de expressar sentimentos que todas as manhãs nos convidam para um café.

Sabe aquele coração à moda antiga?

Esse bate no meu peito.

Simpatizo com quem fala a minha língua, que sabe me ler em entrelinhas, e que não pede tradução. Que já ouviu falar do meu frio e tem sempre um agasalho no banco do carro.

Aquela pessoa que possui um gingado na hora de entrar na sua vida, que não se afoga em promessas vãs, e que sabe ser elegante até na hora de dizer adeus.

Me impressiona um querer urgente, que transpõe o que eu calo e decifra o meu olhar, que me alcança ainda sem me tocar, e não precisa de licença pra despir os meus devaneios.

Sorrisos maliciosos que morde os lábios, que se mostra afinado e sem partituras, e um prazer imponente de quem sabe o que quer hoje, e amanhã também.

Me realizo entre afetos que se confundem com uma mera chegada e vira presença, que flerta com a minha silhueta sem ego, e que corteja o meu batom no colarinho da camisa.

Reverencio quem não leva a sério a minha TPM e chega de mãos dadas com um chocolate, que nem liga se eu não tiver todas as respostas, e participa de todas as singularidades da minha índole.

Não tenho nenhum problema em assumir os meus desejos, em conversar com a minha pele, e convidar as minhas intensidades para um bom banho.

Trago pro meu quarto entusiasmos em forma de abraços, saudades que sabem onde me encontrar, e um jeito lúdico de saciar a minha lingerie e me sentir mulher.

Em dias nublados coloco um chinelo confortável pra que a minha alma se sinta livre, pra que os meus sonhos não tirem um cochilo, e pra que as minhas bagunças internas não aparentem nocauteadas.

Sou feita da predestinação de grandes amores, de sedutores gozos, de perfumes que mimam o meu corpo e não me deixa esquecer, e de todas as delícias que vão além das palavras.

No decorrer da vida algumas partidas me partiram, diversas chegadas eu guardei no meu cabide de estimação, e infinitas histórias que eu acreditei que escrevia à duas mãos não passaram de alguns rabiscos solitários. Vi muitas lágrimas borrarem o meu rímel, esperanças dobrando a esquina, e a juventude de pegadas se tornando ilegíveis com a fúria do tempo.

E hoje, sou também o retrato de tudo isso.

E quer saber?

O que eu gosto mesmo é de quem sabe fazer massagem.

Esses são apaixonantes.

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