Daniela Mata Machado

 

Na semana passada, eu precisei resolver uma questão na operadora de celular. Durante o atendimento telefônico, fui transferida para quatro ou cinco diferentes estados da Federação e, embora até me encante pela diversidade de sotaques do país, eu já estava à beira de um ataque de nervos porque não conseguia simplesmente migrar o plano dentro da própria operadora. E estava assim, irritada, quando a última atendente – aquela que finalmente resolveria a minha questão – se apresentou: “Boa tarde, meu nome é Ana. Como posso ajudá-la?”.

Eu já disse que estava irritada, não foi? Pois a verdade é que não consegui nem respirar fundo antes de dizer: “Ana, eu não aguento mais repetir a mesma história para todos os atendentes, mas vamos lá, antes que vocês derrubem a ligação e eu tenha que repetir tudo novamente para outros nove ou dez atendentes…”. Ana deve ter acionado aquele modo silencioso e ouviu toda a minha ladainha, enquanto eu tinha a sensação de falar para o vácuo de uma sala escura e vazia. Passada a minha falação, ela voltou: “Me diga o número do seu CPF, por favor”. E foi neste momento, enquanto ela falava, que eu ouvi, ao fundo, um bebê chorando.

A partir do momento em que aquele bebê chorou, toda a minha querela com a companhia telefônica me pareceu tão insignificante que eu só conseguia pensar nas condições precárias em que temos vivido. A moça estava, claramente, trabalhando em home office, numa dessas oportunidades extraordinárias que anunciam para as mães: “Você pode trabalhar de casa, sem sair de perto do seu bebê”. E era assim que ela estava, atendendo o telefone de uma cliente irritada e mau humorada – talvez a milésima do dia –, enquanto seu bebê chorava de frio, de dor ou de fome, para ganhar um salário baixo o suficiente para justificar as benesses de não sair de perto da criança e da casa, de que ela provalmente cuida enquanto atende clientes furiosos e grosseiros como eu.

Minha mente deu um pulo num tempo bem remoto em que eu me envolvi com um cara que não me entregava nem a metade do que eu era capaz de dar a ele e uma amiga muito querida me disse: “Dani, você vai se contentar com esse troco? Olha pra você e veja tudo o que você entrega!”. Estou aqui pensando na moça do telemarketing e em como, de uns tempos pra cá, estamos todos nos contentando com o troco que nos permitem receber porque tudo o que podemos ter se resume a isso: o troco.

A voz de Janaina está ecoando aqui no meu ouvido de novo: “E aí, Dani, você vai se contentar com esse troco?”. E eu ecoo a voz dela para cada um de vocês: “O que vocês estão entregando vale somente esse troco mesmo?”. Não, eu não tenho receita. Só a pergunta mesmo, que aliás nem é minha. Mas é uma boa pergunta.

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