Não deve ser fácil ser jovem hoje em dia. Como encontrar motivação para estudar e vislumbrar uma carreira em tempos de influenciadores falando montes de besteira e embolsando milhares de reais no instagram?
Quando atores, cantores e modelos faziam publicidade, era mais fácil de compreender essa dinâmica. Eram artistas que agregavam a projeção atrelada a sua fama, talento ou aparência à imagem que um produto gostaria de ter. Revertendo-se para o mundo da influência digital, são pessoas que trocam a exposição de parte de suas vidas e a constância em se comunicar pela possibilidade de angariar espaços publicitários. Troca essa com potencial de ser altamente rentável.
Acredito que o que esteja sendo verdadeiramente oferecido como escambo na internet sejam alternativas à solidão do espectador. A certeza, para quem acompanha, de que haverá um post, uma informação, um “story”, uma foto. A furtiva sensação de conexão e de compartilhamento de momentos.
Isso me faz refletir sobre o quanto somos sozinhos. A companhia – ou a ilusão da mesma – tem sido a mais valiosa moeda de troca de nosso mundo. Quem oferece um sinal de presença ou “a si mesmo” é buscado, seguido e consequentemente, patrocinado.
No pacote do voyeurismo embarca frequentemente a divulgação de informações equivocadas. Porém, isso não parece ter a menor importância. Até os que nada fazem de especial têm seu mérito: estarem sempre ali. Têm voz, imagem, cores, forma. E isso, para muitos de nós, é melhor do que encarar o vazio.
Nossa solidão é a pedra motriz de toda essa estranha engrenagem. Juntamente à falta de crítica. Tememos o vazio e tratamos de tamponá-lo com sequências de imagens e barulhos rasos. Isso só faz aumentar a erosão de nossos sentimentos. Além de nos dar uma visão completamente editada do mundo (não é possível que a vida alheia seja assim tão interessante!). Se ao invés, preenchêssemos o tempo com estudo, aprendizados, leituras, reflexão e momentos não-instagramáveis, teríamos menos medo de nós mesmos. Teríamos de fato “conteúdo” e solidez. Possivelmente também, por consequência, seríamos devolvidos a uma realidade muito mais interessante.