Daniela Piroli Cabral
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Texto original publicado em dezembro de 2020, durante a pandemia da covid-19.
“Eu pensei que todo mundo fosse filho de papai Noel.”
“Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo.”
(Assis Valente)
Querido Papai Noel,
Hoje escrevo do Rio Grande do Sul, onde tenho o privilégio de passar férias isolada da civilização, na casa de primos muito queridos. Aqui experimento a sensação de estar protegida da ameaça da COVID e espero a noite de Natal chegar, trazendo esperança e renovação em escala global, de preferência em forma de vacina.
Estou num maravilhoso sítio cercado de natureza por todos os lados. Aqui podemos dormir nas redes, pisar na grama, respirar livremente. Florestas de araucárias, pinheiros, paredes de álamos, hortênsias. Tudo aqui é abundante. Todas as cores estão presentes.
De dia, o sol faz tudo parecer mais brilhante e o céu é de uma enorme imensidão azul. À noite, o silêncio reina e nos proporciona um espetáculo de sons diferentes da cidade: o vento, os grilos, as corujas, as ovelhas ao longe. O breu da noite nos brinda com lindas constelações a olho nu e também com o inspirador encontro de Júpiter e Saturno, no solstício de verão.
Hoje caminhamos até o rio, onde molhamos os pés, a cabeça e até onde a falta de uma roupa de banho permitiu. Em todo o seu percurso e em todas as suas quedas, as águas exibiam sua força, graças às chuvas que caíram no último fim de semana. A pequena vira-lata, Farofa, nos acompanhou por todo o percurso, mostrando que a sua lealdade prepondera sobre sua inequívoca necessidade olfativa.
Laura, minha filha, ganhou de sua madrinha uma linda casinha de madeira, que foi construída especialmente para a nossa vinda para o Natal. A casa é um mimo: tem telhado de verdade, balanços, sacada e uma charmosa escada que leva ao andar de cima. Ela está em êxtase desde que chegamos por aqui. Passa o dia inteiro por lá inventando estórias e brincadeiras. Faz lojinha, se balança, cozinha, brinca de ser filhinha, de caçar sapos. De vez em quando, lembra que é minha filha na vida real e me solicita: “Mãe, preciso de uma lanterna”. Vestígios de uma infância que ainda nela reside, momentos que se eternizarão na sua vida adulta como doces lembranças. Às vezes, olho para essa cena e me emociono pensando: “Nessa pequena casinha dá para uma família morar de verdade.”
Então, Papai Noel, te conto tudo isso neste preâmbulo para dizer que, apesar de sua chegada pela chaminé estar sendo ansiosamente esperada, você não precisa vir. Não precisamos de nada. Já temos tudo! Já temos tanto e só temos a agradecer! Temos a quem amar, a quem compartilhar, colos para correr. Temos a mesa farta, temos a natureza que nos acolhe, nos regenera, nos integra. Temos sorrisos, abraços e a música que nos alegra. Temos as letras e as leituras que nos confortam e nos permitem viajar mais além. Temos a integridade dos nossos corpos, que nos permitem sentir e criar memórias, que é o nosso melhor “presente”.
O meu pedido é para que você não abandone os seus filhos. Neste ano de tanta dor, perda e restrição, espero que você consiga chegar a tempo à casa de todos que te esperam ansiosos com a boca aberta de fome, de carência, de amor, de proteção.
Até 2021, Papai Noel.
(Até 2024, no caso).
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