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A união e as guerras

Em meio a duas guerras – e mais outras tantas que desconhecemos – queria falar hoje sobre algo bom.

Formei-me em medicina há 17 anos. Parece que foi outro dia. Há tantas coisas que ainda aprendo e outras milhares que não sei.

Minha turma na UFMG – a 121 – não era das mais unidas. Fizemos muitos amigos entre grupos pequenos (no meu caso, também um marido), mas em geral, não havia coesão entre aquelas 180 pessoas (hoje penso que isso não é um defeito tão improvável assim em semelhantes circunstâncias).

Nós nos formamos antes de existir o WhatsApp. E quando este surgiu, criamos um grupo geral para os colegas daquela época. Entre algumas dissidências políticas e ideológicas, ali surgiu a união que nunca havíamos tido. A turma formou excelentes médicos. Médicos que estão entre os melhores que conheço. E o grupo possibilitou que todos se amparassem mutuamente nas necessidades. Um colega já salvou minha mãe quando ela teve arritmias. Telefonei-lhe no desespero, após anos sem nos vermos e, pouco tempo depois, lá estava ele no hospital para vê-la. Outra amiga é fonte constante de socorro para assuntos cardiológicos de toda natureza. Outro nos ajuda com a infectologia e foi fonte de informações precisas durante a pandemia do Covid. Há colegas que estão longe, mas sempre dispostos a discutir as dúvidas que surgem e que cabem às suas especialidades. Há um exímio clínico que atende aos pais de todos, além dos tios, avós, vizinhos, conhecidos e amigos que indicamos, sempre com empatia e carinho.

Cada colega que envia mensagem no grupo encontra um apoio. Quem não pode ajudar, indica outra pessoa. Ao estilo “não sei, mas conheço quem sabe”. E assim vai se criando uma rede que se ajuda mutuamente há muitos anos. Tem quem esteja no SUS, em clínicas chiques, em outros estados, outro país ou no interior e nada muda. O amparo vem da mesma forma.
Nesse ponto, penso que por alguma razão, acabamos tendo a turma mais unida do mundo.

Este fato não resolve as guerras, mas a existência de algo bom emana algum tipo de positividade. Hoje, quando estava triste ao ver notícias trágicas sobre o conflito, li a mensagem de uma pessoa agradecendo o apoio que recebeu de um colega da turma 121. Uma mensagem cheia de afeto. Naquele momento, a tristeza se amenizou. Desta forma, fez-se uma conexão entre fatos desconexos. É inevitável que um bem não possa representar um pouco mais de fé no futuro.

Tais Civitarese

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