Dois irmãos

Luciana Sampaio Moreira

 

Nasceu Enrico, o segundo filho do Luiz Henrique e da Núbia Rafaela. Primeiros namorados e juntos desde a adolescência, estão casados há mais de 10 anos e têm uma relação consolidada que inclui o inteligente e sedutor Luiz Otávio, ainda em processo de adaptação pela chegada do irmão mais novo.

A trajetória do Enrico não começou agora. Dentro da barriga da mãe, ele aprontou um tanto. Queria porque queria nascer antes do tempo regulamentar para conhecer esse mundão aqui de fora. Acompanhada pela equipe médica responsável, Núbia acabou de repouso absoluto para dar um jeito de administrar a ansiedade do segundo filho, que apesar de todos os cuidados, chegou adiantado três semanas.

Quando consegui, fui conhecer o Enrico. Mas primeiro eu fiz um agrado para o Luiz Otávio, que tem seis anos e perdeu o “trono” para o mais novo. Filha primogênita que sou, eu entendo muito bem esse ciclo. Não tenho lembranças de como foi comigo, mas devo ter sentido o mesmo vazio em algum momento quando o meu irmão, Lucio Jr., nasceu, 1,4 ano depois de mim.

Nos primeiros contatos entre os dois, Luiz Otávio já adiantou para o irmão como as coisas funcionam na casa e fez promessas de que, quando ele estiver maior, brincarão juntos. Por enquanto, tenta firmar-se no cargo de cuidador. As tentativas de carregar são regadas a recomendações e limites sobre os riscos que tal “operação” pode trazer.

 

Entre acertos e exageros, a relação dos dois começa a ser construída. O espaço dividido, os brinquedos e as roupas passadas do maior para o menor… Tudo isso cria vínculos e, se eles seguirem a tradição da família Silva – aquela que curtiu o casamento em Catas Altas – serão bons amigos para a vida.  Que o digam Lucas e Pedro Henrique.

Neste momento, Luiz Otávio e Enrico estão em fases diferentes da vida. O primeiro já é menino, não dispensa uma boa brincadeira. Se recebe uma negativa dos maiores, protesta sem dó e mostra que não gosta de ficar para trás. O outro está no carrinho e nos colos, aproveitando a novidade que é a sua chegada.

Da minha parte, vou esperar o Enrico crescer para carregá-lo. Na condição de tia avó, tenho essa prerrogativa. Como a personagem Felícia do desenho animado, corro o risco de dar um aperto a mais no bebê. Por enquanto, olho de longe e com as mãos bem posicionadas atrás do corpo, para dificultar o convite.

O que me consola é que os bebês crescem rápido e que uma hora ou outra, eles notam a gente. Virão os aniversários – um negócio que as famílias não gostam de passar em branco – e ele saberá o meu nome, como o Luiz Otávio já sabe. A relação com sobrinhos é deliciosa. Eu gosto de ser tia. Fico feliz por ver que a vida se renova continuamente ao meu redor.