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Avaliando o tempo

Peter Rossi

 

Hoje ao acordar me permiti um sonho novo. Viajei pelas dobras do tempo. Revolvi poeiras agarradas nas caixinhas da saudade. Sacudi cortinas. Esfreguei as mãos e me preparei para viver emoções que bem sabia não voltariam. Hoje me banhei de lembranças. Escovei os dentes com a pasta de minha infância.

Fiquei a cantarolar o tempo, assoviando e tentando imaginar porque passava tanto, porque não conseguia acompanha-lo.

Um relógio na parede e um desenho contínuo de ponteiros a gastar meu tempo. Não o dividi com ninguém, porém não é mais meu … simplesmente passou.

Que vida besta esta de se preocupar com o tempo. Em qual medida? Na verdade, essa é uma busca efêmera, para não dizer inútil. O tempo não se acha, somente se perde. Essa equação é sempre negativa: viver o tempo é ter a exata noção de que ele se esvaiu por nossos dedos.

E aí se passam horas, dias, anos. Perdemos nossa infância, nossas melhores vontades, perdemos nossa idade. Perdemos os amores de nossas vidas. Perdemos nossas estrelas, que tirávamos dos bolsos do nosso olhar. Perdemos nossos primeiros beijos. Tempo vilão a esconder dentro de si nossas lembranças.

Idiotice imaginar, perder tempo para avaliar o tempo!

Esse aí não se preocupa com os estragos que fez com sua ausência, ou presença. Teima em seguir em frente sem qualquer preocupação de imaginar que estamos sempre correndo atrás.

Esse tempo que apaga os cheiros, que desmancha nossas frases de amor, que amarela os bilhetes. Nossas histórias, que por mais que insistamos em mantê-las guardadas, perderam o sentido num novo contexto que o tempo fez questão de ultrapassar. É isso mesmo, o tempo nos lembra, a cada segundo, que o passo anterior passou…

Esse tempo que faz do dia noite e, quando mais precisamos, amanhece nosso anoitecer. Que recolhe as estrelas que salpicavam nossos sonhos e nos entristece sem saber porque.

Eu daria tudo para arquivar todo esse tempo, separar cada minutinho daqueles que teimam em não voltar. Roubar mais beijos, entregar mais flores. Viver todos os amores que o amor não me permitiu amar.

Tempo sombrio. Tempo soturno. Tempo de chuva com pingos de saudade que insistem em molhar meu rosto como a lavar minha alma e melancolicamente me dizer que nada voltará.

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  • Um complemento belo para a poesia Caetaneana de Oração ao tempo. Que possamos ter uma vida que entenda que ele é um senhor tão bonito....

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