Observando com atenção, vejo que há duas coisas que derramam fezes sobre gerações. Uma delas é o patriarcado por si só. A outra é o fanatismo religioso. Ambas têm a mesma raiz, amparada no rol das estratégias para a manutenção da propriedade privada e das estruturas de poder do passado.

Com o passar dos séculos, as duas coisas se desenvolveram e tornaram-se entidades independentes, de alma própria, mas igualmente perniciosas para a sociedade. Maléficas tanto para para homens quanto para mulheres.

O patriarcado iguala-se à opressão. E o fanatismo religioso impede que se faça algo a respeito. É a combinação perfeita para o auto-aprisionamento, para a desvitalização humana e para o trauma. Quantas pessoas já suportaram coisas horríveis por sentirem culpa em relação à divindade ou para preservarem uma imagem social? Quantas mulheres já permaneceram casadas e infelizes porque juraram no altar para algo acima de si mesmas? E quantas já não morreram pela mesma razão? Morreram mas serviram aos preceitos. Morreram, mas não fugiram ao livro. Quantos homossexuais já viveram o inferno porque supostamente “iam contra a sociedade” ou “a lei de Deus”? Ainda não conheci ninguém, de nenhum gênero ou orientação sexual, que não seja vítima desta drástica combinação.

A passabilidade da violência contra a mulher, do abandono paterno, da negligência parental, do abuso psicológico sobre cônjuges e prole, da exploração do trabalho feminino, da desigualdade de direitos, tudo isso configura uma estrutura adoecedora que nos condiciona a viver em equilíbrio frágil sobre um empilhado de equívocos que, felizmente, está em processo de desmoronar. Tudo isso envenena a interação familiar tal como uma toxina, um cigarro que se fuma através pele. E assim como um pulmão impregnado, leva anos para ser expurgado.

A passabilidade dos erros masculinos entre nossos ascendentes intoxicaram famílias, filhos, netos, bisnetos e é necessário muito tempo, muito esforço, muita informação e muita análise dos seus descendentes para libertarem-se das consequências. Os agentes muitas vezes já estão senis ou morreram. E cá estamos nós pagando as prestações a longo prazo por seus crimes.

Espero que as gerações futuras sofram menos danos desta origem. Espero que os homens avancem, que deixem de ser tão arraigados. Que atualizem-se no campo das ideias assim como gostam de atualizar-se nas tecnologias. Que busquem o mínimo de desenvolvimento intelectual assim como desejam modernos eletrônicos ou veículos. Que entendam que a sociedade evoluiu, o modelo patriarcal provou-se falho e é preciso buscar outras alternativas.

É insuportável um homem do passado. E todos padecemos de sua presente decadência.

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