Normalização da violência contra mulheres

Luciana Sampaio Moreira

 

As redes sociais nos trazem imagens que nem na ficção, deveriam acontecer. E a gente vai, perigosamente, se acostumando com elas, como se fossem parte do cotidiano. No sábado, 4 de novembro, uma jovem de 23 anos filmou a sua execução, pelo ex-namorado, de 27 anos.

Eles estavam juntos naquele momento porque ela tentava colocar um ponto final definitivo ao relacionamento. Mesmo sendo filmado, ele aponta a arma para a moça que ainda brincou, até que o disparo da arma acabou com tudo.

Repete-se o show. Primeiro a mídia, depois a disputa judicial e, no final, o risco da impunidade e a possibilidade de flagrar, no supermercado –  e já acompanhado por outra mulher – aquele sujeito que acabou com a vida de uma mulher anos atrás.

Já que se fala tanto na importância da família, que família é essa que entrega para a sociedade um homem com tamanho grau de frieza e violência no trato com mulheres? Que, diante da possibilidade de ouvir um não, se arma para um encontro? Que mata para que ela não tenha a chance de conhecer outra pessoa e ser feliz? Como essa coisa antiga de se sentir dono do corpo e da alma de outra pessoa persiste até os dias atuais e ainda serve de justificativa para muitos homens e mulheres?

Como todo assediador/manipulador, o sujeito tentou engatar uma estória para a polícia. Negou a autoria. Sabidamente, a conduta é típica de covardes. Batem, ameaçam, xingam, dilaceram o psicológico do outro e – quando questionados – ainda se apresentam como os melhores da espécie humana. De algozes se tornam vítimas…

Mas toda história de dois tem dois lados. O que essa moça viu dentro de casa como exemplo de relacionamento amoroso saudável? Como, aos 23 anos, normalizou o ato de se ver na mira de uma arma de fogo, apontada por um sujeito de quem já havia recebido ameaças? A que ponto chegou o assédio sofrido, para que ela simplesmente sorrisse e ainda chamasse o seu algoz de “amor”, segundos anos de ser morta?

Por amor, por carência, ou mesmo por piedade, a famosa dó que não é nota musical, tinha uma forma de compreender a violência contra a sua existência. Seu corpo tombou em nome de sentimento de posse e de um não declarado ódio pelas mulheres.

Em um país onde impera o machismo estrutural – artigo valorizado por influencers e lideranças políticas e religiosas – mulher ainda tem espaços pré-definidos a ocupar. Aquelas que não aceitam a regra correm riscos dentro de casa e também nos relacionamentos externos. Já não passou a hora de mudar isso?

 

 

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