Daniela Mata Machado
Na antessala do médico, ela estava agitada e falava com uma amiga ao celular – mas a sala inteira ouvia, porque ela falava alto. “Eu não estou bem, amiga. Estou aqui aguardando o psiquiatra. Preciso de um antidepressivo. Ou de um ansiolítico. Ou talvez eu precise dos dois.” A voz estava embargada. A amiga encerrou a ligação e ela pareceu querer chorar. Eu estava sentada ao lado. Ela então começou a falar comigo mesmo. Precisava falar. “Meu marido é ótimo e meus filhos também”, começou. “Mas ando muito impaciente, irritada e meu sono também não está bom.” Contou que sua vida era ótima e que não sabia porque se sentia assim. Três filhos entre a infância e a adolescência, o marido desempregado e ela trabalhando em dois empregos. “Mas estou conseguindo manter tudo”, contou. “E o meu marido é uma ótima pessoa. Muito bom pai.” O médico a chamou. “Tomara que ele me dê um remédio, moça. Não aguento mais viver assim.” Ela disse e entrou no consultório.
Na farmácia homeopática, no dia anterior, uma mulher mais ou menos da minha idade pedia indicação de um fitoterápico para lidar com os sintomas da menopausa. Eu estava atrás dela, esperando para encomendar os meus remédios, também para a menopausa. “Está sentindo calores?”, a fitoterapeuta que atende na farmácia perguntou. “Sim, calores também. Mas o que mais me incomoda é uma irritação que não passa, insônia e uma incapacidade de focar em tudo o que preciso fazer. Estou procrastinando muito”. Solteira, ela contou que trabalhava em um restaurante na frente de sua casa e que esse era um ótimo arranjo porque, desse modo, podia cuidar da mãe com Alzheimer. “Você é a única a cuidar dela?” Sim, era. E cuidava também dos sobrinhos pequenos que a irmã deixava com ela duas vezes por semana.
Um levantamento da ONG Think Olga, divulgado há dois meses, revela que 45% das mulheres brasileiras com mais de 18 anos já receberam diagnóstico de ansiedade, depressão ou algum outro transtorno mental. Muitas delas estão medicadas.
“Estou tomando medicação, mas parece não estar fazendo efeito”, me queixou uma amiga. Diz ela que tem muitas crenças limitantes que a impedem de ter uma relação melhor com o dinheiro. “Você trabalha com aquele negócio de Barras de Access, não trabalha, amiga?”. Sim, eu atendo com essa técnica. “Faz isso pra mim, por favor? Eu preciso desbloquear essas crenças sobre dinheiro porque eu ganho uma grana até razoável, mas não consigo juntar nada, amiga. Tenho que ver o que acontece com essas crenças de dinheiro”. Minha amiga tem dois filhos. Perguntei se ela tem comprado muitas roupas, sapatos, essas coisas… “Compro nada. Vai tudo no supermercado, amiga. Não sei o que é isso.” Ela também paga escola. O marido acha que escola particular é luxo. E o curso de inglês dos meninos. “Eu pago porque sou eu quem faz questão, né? Será que isso também é crença limitante? É dele ou é minha?”
Existem transtornos psiquiátricos. E não há dúvidas de que as terapias tradicionais ou complementares são uma ajuda bem importante. E é fato que algumas pessoas também precisam de remédios. Mas não acredito que 45% das mulheres necessitem de medicação psiquiátrica. Não mesmo. As mulheres estão exaustas. Não é Síndrome de Burnout. É cansaço. Não é estresse. É sobrecarga.
Eu gostaria de ter voltado ao Mirante com um texto leve, delicado e cheio de esperança. Mas hoje eu só consigo falar do cansaço. Terapia é ótimo. Academia também. Mas urgente, mesmo, é aliviar essa sobrecarga.
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