Silvia Ribeiro

Antes de mais nada quero deixar claro que não se trata de uma teoria engessada, e tampouco uma pretensão de acertos sobre o famigerado tema.

Não há entendimento para o ciúme.

As vezes ele me lembra aquelas feras enjauladas prontas pra dar o bote, e que ao menor descuido já pulou no nosso pescoço com a destreza que lhe é peculiar. Nesse instante podemos dizer que já perdemos o jogo.

No meu conceito ele tem muitas caras e retoca a maquiagem diversas vezes ao dia. E quando achamos que está satisfeito lá está ele, como se tivesse numa passarela exibindo os seus dotes e chamando a atenção para si.

Em alguns momentos tenho a impressão que ele está trajando uma dessas capas pretas que vão até o pé, um chapéu esquisito, e uma bota desengonçada, na tentativa de parecer mais assombroso e autoritário. Sai de casa todo paramentado e se achando o mais importante da relação.

E o pior é que ele tem muitos seguidores.

No entanto ele é apenas o fruto de uma fantasia que acredita em algo que ainda não disse à que veio, que não criou forma, que não tem boca, e muito menos olhos. E sabe lá Deus se existe.

Que fica por ali num beco sem saída destilando o seu veneno, se fazendo de amigo, ou sobrevivendo dos restos mortais de sentimentos menores, como um parasita inerte tentando achar uma brecha pra se hospedar.

Com isso o coração fica cheio de dissabores, se enrijece, fala mal de si mesmo, e não quer saber de conversa.

Um raciocínio que sendo analisado com frieza parece matemático, partindo do pressuposto que gato escaldado tem medo de água fria.

Outro dia mesmo me deram a ficha de um coração que adotou uma sacolinha dessas de plástico, e que ao menor sinal de perigo joga fora tudo que possa parecer amor. E nem adianta argumentar.

Mas o que me intriga mesmo é o modus operandi que o fulaninho que responde pelo o nome de ciúme usa.

Se vale de artifícios pra deixar a nossa individualidade turva, criando em volta da nossa autoestima uma redoma de luzes apagadas e espelhos quebrados. Uma criatura feia e do tipo que só conhece destruição.

Desconfiança, medo, raiva, vingança, achismo, incerteza, tristeza e desamor. Efeitos colaterais de um dita(dor).

São tantos “isso ou aquilo”, que não caberia nas nossas gavetas emocionais e nem no mais criativo de todos os diários. Uma aparição inútil que só nos emburrece e nos deixa com a sensação que estragaram a nossa festa.

Até que algo mais amadurecido e que já foi purificado pelo tempo se propõe a consertar essa bagunça e tornar as coisas menos espinhosas.

E pra que tudo não passe de um lamentável engodo propõe-se um desalmado e merecido boicote contra esse viajante que se sentou no nosso cérebro como se tivesse sido convidado.

E depois de tudo isso só mesmo um bom chá de camomila pra fazê-lo dormir.

Tomara que não acorde.

 

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