Em torno do tesouro de minha mãe a vida transcorria da calmaria à vendavais. As conversas em múltiplas facetas faziam-se presentes, assim como as rezas. Ora aconteciam as prosas do cotidiano com filhos, netos, sobrinhos, amigos e aqueles que queriam um acolhimento; ora eram as confidências e conselhos. E os fios sendo tecidos nos laços sociais e nas tramas que surgiam pelos dedos.
Presentes mil saíram do bauzinho mágico _ passarinhos voaram, flores em suas exuberâncias, gregas e muito mais…
Na escuta da missa ou das mensagens da Canção Nova os dedinhos frenéticos não paravam.
Abrindo a caixa do tesouro, saltam as cores das linhas e das amostras (um pequeno pedaço tecido mostrando a trama). As agulhas? Ah, essas… como são diversas em tamanhos e até em cores. Para cada espessura da linha uma ferramenta adequada.
Para a Mercer Crochet a mais fininha, essa são para pessoas de larga paciência. Rende pouco no tamanho, mas de delicadeza sem fim.
A Barroco n.º 4 vai bem para os sousplat, e foram muitos presentes distribuídos desse adereço de mesa. “Não gosto do barbante, é muito áspero.”
O tesouro era precioso e quis compartilhar com outras pessoas desejosas desse saber.
Tecendo fios, tecendo conversas, tecendo laços, tecendo amor, assim minha mãe fez do crochê um saber viver. Gostava de dar a receita: “é para preencher a vida e faz bem para cabeça”.
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Como diria os outros essa é minha irmã, parabéns por transformar em palavras o doce viver
Que texto lindo ,quanta delicadeza em descrever a linda história da mamãe com o seu baú do tesouro