Estamos vivendo num contexto de vidas atravessadas pelas tecnologias e indelevelmente marcadas pelas consequências delas em nosso cotidiano. Por outro lado, vivemos ao mesmo tempo em que tentamos entender as rápidas e constantes transformações pelas quais passamos, individual e socialmente.
A pandemia colocou em evidência e intensificou o uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) pela necessidade de distanciamento social, o que trouxe mudanças significativas para o mundo do trabalho, os espaços domésticos e as relações. Um pouco mais além, as tecnologias vêm, há um certo tempo, influenciando e até determinando processos de subjetivação e de construção de identidades, bem como evidenciando dilemas éticos anteriormente impensáveis.
É inegável que não há mais uma separação clara entre o “mundo real” e o “mundo virtual”. Os limites entre eles estão muito tênues, com fronteiras um tanto quanto “borradas”. Os fenômenos virtuais devem ser compreendidos como parte integrante e indissociável dos processos de subjetivação relacionados à construção de identidades, com especial atenção à infância e à adolescência.
Além disso, alguns autores têm utilizado o termo “subjetivação pandêmica” para se referirem aos impactos que as complexas interações entre vírus, pessoas e tecnologias têm gerado em nível individual e social.
Além disso, não podemos perder de vista que é na existência de um espaço cibernético onde se desenrola uma crise de sentido permanente, do qual nós, internautas, não passamos ilesos. É no “não lugar” do amplo espaço cibernético que experienciamos o pano de fundo das complexas realidades contemporâneas e o “peso dos excessos de um tempo saturado, em que as crises de nosso tempo convergem sobre uma ineludível crise de sentido” (TAPIAS, 2006, p. 62).
Nós, profissionais “psis”, observamos todas essas mudanças no nosso fazer cotidiano através dos atendimentos online, do corpo que só existe do peito para cima; da voz que soa metalizada pelo microfone; nos pacientes que só conhecemos no virtual; nos atendimentos que prescindem o espaço e nos levam aos Estados Unidos, Portugal e Austrália.
Nós vemos todas essas mudanças nas crises e conflitos nas relações que se desenrolam nas teias das redes e tecnologia: colegas de trabalho que compartilham projetos, trabalham colaborativamente – e competitivamente – mas nunca se viram face a face; nas novas profissões que surgem mas parecem hobbies e brincadeiras; nos amores de pandemia que acontecem pelo aplicativo de relacionamento; nas traições “virtuais” mas com impactos bem reais; no culto excessivo à beleza e à juventude que “harmoniza” faces mas desarmoniza o tempo e desestabiliza o humano.
Estamos vivendo e ao mesmo tempo tentando fazer um exercício de compreensão em relação ao futuro. Quem (sobre)viver verá.
Referência:
– TAPIAS, J. A.. Internautas e náufragos – A busca do sentido na cultura digital. Edições Loyola: São Paulo, 2006, cap. 2
Em tempo: hoje à tarde, precisamente às 14hs, neste espaço vamos trazer um interessante texto da artista, educadora, entusiasta da invenção e ativista de imaginários, Luísa Bahia. Conheça nossa convidada:
Luísa Bahia tem 32 anos, é mulher artista, educadora, lgbtqia+, natural de Congonhas e residente em Belo Horizonte/MG. Formada em Teatro pelo CEFART e pela EBA/UFMG, com intercâmbio para a UNIBO/Itália, desenvolve criações autorais integrando artes cênicas, música, poesia, performance e artes visuais.
Em 2016 estreou a peça-show RISCO, com co-direção de Ricardo Alves Jr. e dramaturgia própria publicada na Coletânea Janela de Dramaturgia pela Editora Perspectiva. Em 2018 foi diretora e dramaturga da Cena Curta Brasa. Em 2019 estreou o vídeo poema TATUADA, o single/clipe LEOA AZUL e em 2020 lançou o single e lyric vídeo A BRISA ARDE. Desde 2017 coordena a Plataforma DORAS (encontro artístico de mulheres cis, trans e pessoas não binárias) e conduz Cursos de Voz e Artes Integradas. Atualmente circula com o seu Show Autoral COISA DE BICHO, realiza Performances Poéticas e prepara o seu primeiro Livro de Poesia.
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