As pontas dos dedos da minha avó cheiravam a alho. Hoje existem umas pedras que removem o cheiro. E sabonetes específicos. Descobri que depois de cozinhar, se você coloca a mão dentro do filtro do café que foi coado, esfregando-a nos resíduos de pó úmido, o cheiro some. Fiz isso e deu certo.
No tempo de vovó não existiam essas químicas de hoje. Mas sempre havia um resto de café no filtro ao fundo da pia. Talvez ela pudesse ter feito isso. Não que o cheiro a incomodasse. Era o odor de quem tinha preparado o almoço, misturado com aroma de detergente e água. Havia ali também um inusitado cheiro de água que não sei explicar direito.
Suas unhas nunca estavam feitas e já nasciam com umas manchinhas brancas. Eu achava que era pelo excesso de lavar a louça. Talvez fosse genética. Eram unhas com cutículas grandes, de cor normal e pintinhas. Suas mãos eram fortes, duras e árabes. Quando tinha festa, enchiam-se de anéis. Minha tia mandava-na colocar. Também lhe faziam maquiagem para ressaltar a sua beleza. Se dependesse dela, iria simples, apenas com uma roupa mais fina.
Sua vaidade era pintar os cachinhos. Eles já foram de todas as cores. Loiros, acobreados, marrons. Voltava do salão e estavam macios como um pêlo de ovelha. Eram finos e dengosos, enrolando-se na volta de sua cabeça e, por vezes, entrando dentro do brinco de argolinha. Eu achava aquilo engraçado e meio infantil. Muitas vezes, ela parecia uma menina.
Quando me dava as mãos, eram mãos fortes. Minha tia tem a mão igual. A pele não era manchada, tinha listras que pareciam rugas de mão. Eram mãos confiáveis. A minha mão é fina e longa e não se parece com a dela. Somente no cheiro de alho. Quando cozinho e pico temperos, cheiro a mão e me lembro dela. Me sinto parecida com ela. Quando fazia o almoço, ela tinha um cheiro igual.
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