Ouro Preto me evoca um punhado de memórias. Para quem mora em BH, a antiga Vila Rica é um destino certeiro de viagens ocasionais. Excursões com o colégio, show do Skank, festival de jazz, férias com minhas primas. Foram tantos momentos vividos ali. 

Para mim, a cidade sempre foi também sinônimo de família. Meu tio, tia e primos passaram quase toda a vida lá.

Tenho lembranças de ir visitá-los desde muito pequena. Eles já moraram em vários endereços. Alguns situados em ladeiras, outros em praças. E sempre em ruas calçadas de pedras. As casas típicas, com pisos de madeira ruidosa, eram sempre acolhedoras e pareciam contar muitas histórias. Algumas vividas por nós lá dentro e tantas outras alheias à nossa presença.

Em fins de semana meio à toa, lembro de ir à cidade com meus pais. A chegada sempre nos saudava com vendedores de objetos em pedra sabão. Na época, eu não os apreciava muito. Hoje, vejo profunda beleza em suas cores de cinza, rosa e verde opaco.

Uma vez, num desses passeios, mamãe me deu um anelzinho de ametista. Usei-o por muitos anos acreditando que a pedra me traria proteção.

No último domingo, fui à cidade para a missa em homenagem ao aniversário da morte do meu tio Flávio. Fomos acarinhar minha tia e primas. Estiveram presentes também alguns amigos e os meus pais. Meu tio era muito querido, emanava simpatia e sabedoria para além de suas aulas de física na universidade federal.

Ao fim da missa, dirigimo-nos ao jazigo em que ele se encontrava. Estava repleto de flores. Quando vi seu nome cravado, chorei um choro guardado por um ano. Choro esse que, na época, ainda não era meu – era preciso cuidar dos outros. Aquela lápide de pedra me emocionou e empilhou-se às lembranças edificadas naquele lugar. Muitas delas importantes, tantas delas felizes, todas feitas de sólida rocha como alicerce para tudo o que veio depois.

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