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Senhorinha arretada

Silvia Ribeiro

Tenho o costume de ser discreta e de ser uma boa ouvinte.

Essa é uma condição que me agrada e me abre algumas brechas pra que eu entenda certas coisas, e pra que eu possa interagir melhor com os meus avessos. Me sinto confortável na posição de aprendiz.

Um dia desses, ouvindo um palestrante debulhando um tema que de um dia pro outro resolveu entrar na maioria das casas sem pedir licença senti um imenso desconforto. Confesso que me surpreendi com a forma implacável e o abortamento da delicadeza que a questão necessita. Talvez a ligeireza do tempo explique isso.

E o tema era:

Como as pessoas lidam com as diferenças nos dias atuais?

No entanto, o que deixou uma pulguinha atrás da minha orelha não foi o tema em si, mas algumas opiniões uniformizadas virando modinha como se fosse um novo corte de cabelo. Aquele ambiente era cercado de dúvidas, emoções dando piruetas sem saber ao certo o que fazer, e muita fragilidade querendo colo.

O enredo quase sempre é o mesmo. Salvo alguns que querem expandir a criatividade e inventar algo mais pirotécnico e que consequentemente proporcione mais likes. Aqueles que se acham, como diz a modernidade. Uma verdadeira overdose de estupidez e ego superando qualquer senso de empatia.

Intolerância vestindo um traje pedante, violência pelo simples prazer da violência, abusos em diversos âmbitos e cores. Falas que praguejam, pedras que voam em todas as direções, olhares que arrancam o couro, e aparições amargas destilando venenos que matam. É impossível me estender.

De repente uma senhora aparentando uns 60 e lá se vão primaveras resolveu palestrar também. Sentada ao meu lado eu pude perceber que dentro dela havia um grito pedindo uma chance e querendo fazer valer a sua presença.

Que gente chata essa de hoje!

No meu tempo havia tudo isso, e ninguém tinha esse ranço de querer modelar a personalidade ou as escolhas dos outros. As pessoas se esquecem que a humanidade sempre torceu o nariz pra tudo aquilo que elas não podem mudar, e pra todas as coisas que não se encaixam nos padrões dos seus cérebros. E isso acontece desde que o mundo é mundo.

Fico vendo essa necessidade que algumas pessoas têm de encontrar uma tribo supostamente inatingível e que os ajude a colocar as suas bestialidades em movimento. Enterram o futuro e enredam vidas nos seus lodos como se tivessem diante de um jogo de azar, levados por uma carência de querer ter sempre razão e se achar o fabricante da verdade. Se embrulham em preconceitos como se isso fosse um valioso presente.

As rugas do meu rosto me fazem muito feliz. Me enoja ver tanta malícia injustificável sendo usada como se fosse um tratamento de rejuvenescimento criando outras faces. Sou bem mais interessante do que esses des(humanos) que ficam por aí procurando sombras onde existe luz, que sentem prazer em murchar a felicidade de quem tem um coração mais bonito, e que levam pra dentro de casa condutas que não podem praticar nas ruas.

Estamos vivendo os tempos dos (PSI). Parece que todo mundo acordou capacitado.

Psicólogos, Psicopedagogos, Psiquiatras, e tantos outros. Tem sempre um Psi alguma coisa se exibindo.

Sem falar dos tais Psicopatas.

As pessoas se comportam como se tivessem em suas mãos o poder soberano do conhecimento e do julgamento, e ficam tentando entupir a cabeça dos outros com as suas teorias sem fundamentos e sem uma comprovação acadêmica. Não sei onde elas arrumam esses diplomas sem muitas vezes nunca terem se sentado numa cadeira de escola.

Eu acho que elas deveriam é saber onde fica o próprio umbigo, comer rapadura vendo o sol dizer bom dia, provar café de coador, tomar banho de rio pra esfriar a cabeça, e deixar esses fatos pra quem entende do assunto, e ponto final. Posso ser matuta, mas pra mim falta amor na vida dessas pessoas que não conseguem enxergar e aceitar o outro como ele é.

Porém, o que eu penso mesmo é que, elas deveriam é estar fazendo sexo todas as noites. Isso sim.

Queria ver se ia ter gente se orgulhando de ser vilão, ou bisbilhotando a vida de alguém.

Ah! Isso eu queria ver.

Senhorinha arretada. Essa é das minhas.

Sem mais… Risos

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