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Vai chover

Silvia Ribeiro

Eu sempre amei a chuva.

Acreditava que aqueles pingos que escorriam na minha janela estavam brincando de ser criança, e eu queria ser criança também.

Eis que um dia ela foi testemunha de um amor que chegou em forma de tempestade, como se fosse uma destruição em massa de todas as minhas esperas.

Um milagre onde havia apenas nós dois e uma cena que me fazia sorrir por nada.

Não tivemos tempo pra muitas palavras, os nossos olhos se lambuzavam naquele fascínio intocado, praguejando o amanhã que poderia nos levar um do outro.

Quanto mais longe chegávamos mais desejo havia em mim. Aquele abraço me levava pra dentro dele sem me privar daquele cheiro que queria estar na minha roupa.

Hoje posso dizer que quando a chuva cai eu o procuro em cada gotícula que molha as minhas lembranças e sinto a distância que separa os nossos corpos.

Viajo nos nossos encontros sempre quentes e ao mesmo tempo tão protegido e existindo apenas na minha saudade. Queria que a vida te mostrasse o meu endereço, mesmo sabendo que uma próxima vez seria algo que elucidaria todas as imagens que vivem nos meus sonhos buscando o caminho de volta.

Fecho os olhos e me vejo naquela dança que me acariciava, sinto as suas mãos fortes segurando a minha cintura, busco a sua respiração e ela se mostra cada vez mais legível. E como num espetáculo de mágica ouço a canção que naquele instante virou a trilha sonora da nossa história, e um suor fino serena nas minhas costas.

Se eu pudesse tê-lo de volta eu diria:

Vai chover…

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