Quando a gente acha que está a caminho do futuro, o passado volta com força total e sem o menor pudor. Os casos de racismo contra Vinícius de Oliveira Júnior, o Vini Júnior, na Espanha não merecem explicações, mas punições exemplares. Algumas estão acontecendo, depois da enorme repercussão dos ocorridos. Porque não foi apenas uma vez, mas vários ataques sofridos pelo atleta.
Incentivos a tais condutas criminosas apenas reacendem práticas que já deveriam estar muito bem enterradas no planeta. Mas porque não estão? Vamos aos fatos. Com 22 anos, 1,76 metro e salário não confirmado de cerca de 7 milhões de euros por ano como atleta do Real Madrid Club de Futbal, o jovem que foi embora do Flamengo como promessa hoje é realidade. Se fosse mais um, não representaria risco e, com certeza, não seria alvo de tanta violência.
Não raras vezes eu fico pensando no que representa uma atitude racista em pleno século XXI. De forma clara, tais ataques visam apenas fragilizar o estado psicológico do jogador/vítima e demonstrar que, pelo menos nesse quesito nefasto, esse pessoal que se julga melhor por causa da cor da pele pode demonstrar alguma competência.
Com certeza, os algozes de Vini Júnior não têm o mesmo talento que ele. Talvez nenhum que valha suas miseráveis existências. Também não devem ter na conta bancária um valor parecido e não namoram modelos bonitas, jovens, famosas e brancas. Acredito que é por tudo isso que o racismo contra ele venha se manifestando com tamanha insistência e virulência.
Porque um preto que já realizou muitos dos sonhos que um monte de brancos não conseguirá alcançar durante a vida é algo que, na cartilha mofada que legitima o racismo e o preconceito, subverteria alguma ordem que já caducou há muito tempo… Esse negócio de cor de pele falar mais alto não tem cabimento. Deveria ser algo superado nos países colonizadores – a Espanha um deles – e nas ex-colônias onde a política de segregação racial herdada ainda encontra caminhos para se perpetuar em duvidosos show humorísticos com piadas (?) de extremo mau gosto.
O racismo é, então, uma clara demonstração de inveja contra um jovem vencedor que tem um caminho promissor pela frente. Assim como o atleta, quantos pretos se destacam e têm que enfrentar o olhar enviesado de quem não conseguiu alcançar uma posição similar? Muitos. Histórias não faltam no Brasil.
Agora, para que suportar tudo isso? Será que Vini Júnior acredita que os racistas deixarão de ser assim? Teve gente presa, teve desagravo e teve um depoimento muito bem feito dele. Mas quem nasceu para ser verme vai morrer assim. Se eu pudesse falar alguma coisa para ele, apenas lembraria que saúde mental é um negócio muito frágil e que demanda cuidados.
Com ela, o jogador facilmente se transfere para outro time, para fazer o que gosta e ser feliz de fato, sem ter que se submeter à violência covarde de uma horda de infelizes que, mesmo depois de toda a repercussão negativa do que fizeram, vão planejar uma próxima investida.
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