Ontem assisti a um espetáculo de teatro do grupo Ponto de Partida, de Barbacena. O tema da peça: Minas Gerais.
Textos foram narrados, entrecortados com inesquecíveis músicas de Milton Nascimento e Fernando Brandt, dentre outras.
Me deixei levar por tudo aquilo e acabei mergulhando num passado que não vivi. Imaginei os tropeiros por essas bandas e os escravos com suas bateias e catar o ouro como se fossem pedaços de estrelas caídas do céu.
As músicas também contavam histórias, não nos deixando esquecer que do raro significado de nossas terras, desde o nome até a coragem dos homens a extrair da pedra a realização do sonho. Homens brutos como as rochas a admirar a lua, acreditando que o dia seguinte seria melhor. Homens que não deixavam de lado a sua luta fazendo do acreditar meio de vida.
Minas era assim. Minas é assim, e muito mais.
A cada música que cantavam, eu mergulhava numa viagem da qual não queria mais voltar, afinal de contas, “sou do mundo, sou Minas Gerais”. Um orgulho danado nascia (ou melhor, renascia em meu peito). Olhava as pessoas ao meu lado, dentro do teatro, imaginado fossem todas imigrantes e me bendizia por ser filho da terra.
O espetáculo decorria e uma das músicas trouxe a imagem lírica de que em Minas, o mar é o céu. Que coisa mais linda! Basta a gente virar o mapa e passamos a navegar. Fiquei pensando na imagem, na metáfora, e acreditei mesmo que fosse possível a empreitada. Alguns segundos depois, tive a certeza.
Antes sempre pensei no mar de montanhas. Já ouvira que o sertão vai virar mar, mas não tinha ainda deixado fluir a sensação de navegar no céu. Repito, que coisa mais linda, que céu mais lindo o da minha terra.
Quando imaginei que minhas surpresas tinham sido satisfeitas pelo inesperado sentimento de alegria plena, meus ouvidos perceberam frases em voz feminina a declamar sobre os rios de Minas Gerais. Mas, não é verdade absoluta que todos os rios desaguam no mar? Por que então Minas não tem mar? Mais uma vez fui retirado de mim, e passei a pensar que serpenteando montanhas, nossos rios queriam mesmo é ficar por aqui. Ir pro mar prá que? Nada, vamos voltear nossas terras, até porque terras melhores não existem. Compreendi que os rios queriam mesmo é ficar por aqui.
A essa altura, completamente emocionado, agradeci a minha infância, minhas memórias, todos os rios que vi, nos quais caminhei descalço pisando os seixos. Obrigado meus rios por irem, mas sempre pensarem em ficar.
Minas é isso mesmo, pensei logo ao final da peça. Das frases clichês aos mais profundos sentimentos. O próprio nome diz tudo, mergulhos na terra a perder de vista, inundando nossos corações de esperanças.
“Sou do mundo, sou Minas Gerais”, cantava o artista maior. Sou de todas essas emoções entre chapadas e morros, entre cachoeiras e pedras, entre céus e montanhas, com rios sempre a enlaçar essa gente.
Que bom ser daqui!
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