O cartunista Duke, no dia 21 de abril, publica uma charge onde um soldado tira uma self com Tiradentes no momento de seu enforcamento. Coloquei-me a pensar sobre isso…
Essa data é um marco da história brasileira. Nela, no ano de 1792, foi enforcado o inconfidente Joaquim José das Silva Xavier – o Tiradentes. A Inconfidência Mineira foi um movimento anticolonialista e como tal a Coroa Portuguesa precisava eleger alguém para punir em ato público. Foi um horror a céu aberto e exemplo para aqueles que possuíssem tais ideais. Como não bastasse o enforcamento, a lembrança da traição ficou pelo esquartejamento de Tiradentes e seus restos mortais sendo expostos pela cidade de Ouro Preto/MG. Duke, além de marcar a data, expressa sua crítica e humor sobre o uso das redes sociais.
Outro motivador para falar sobre o humor veio da colunista Vera Laconelli, de 04 de abril, da Folha de São Paulo – Elogio ao humor. Ela descreve o diálogo do filme “Um bride à Vida” (2014), que narra sobre três mulheres sobreviventes de Auschwitz. O diálogo:
“Acho que te conheço de algum lugar.”
“Você também não me é estranha”
“Ah! Lembrei! Nos conhecemos em Auschwitz.”
Vera lembra que “a possibilidade de fazer piada com o horror revela o trabalho psíquico envolvido na elaboração simbólica e o deslocamento afetivo da cena vivida”.
Freud, o pai da psicanálise, trabalhou isso em “Chiste e sua relação com o inconsciente” (Freud, 1905). Conforme seus estudos os gracejos, piadas e trocadilhos geram uma “economia do gasto psíquico” e que com eles há “certo prazer” ao trazer à tona assuntos reprimidos. O psicanalista observa que ocorrem processos similares aos sonhos, contudo os chistes requerem uma audiência, têm função social. Faz-se piada para um grupo de pessoas, assim o chiste faz laço. E, se a piada faz ri, ótimo! Uma piada é contada para outro e esse outro para o outro e a transmissão ocorre.
O psicanalista Christian Dunker, em seu programa no You Tube: Falando Nisso, aponta que o chiste é uma estratégia para driblar o superior, as repressões sociais e o próprio supereu.
Na charge de Duke observamos uma denúncia social feita com humor. Ele aponta o exagero das selfs nas mídias sociais. Qual de vocês, percorrendo essas redes, não se deparou com uma postagem equivalente à do cartunista? Uma que causa horror, que te remete a pergunta: o que essa pessoa pensava nessa hora? Por que postou tal coisa?
É preciso muito humor para tanta estranheza!
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Sandra, gosto muito das escolhas de seus tópicos....totalmente inovadores.
Parabéns!
O selfie é uma invasão de privacidade.e não leva a nada.,..
Ainda bem que não tinha fotos naquela época.....