Outro dia, fazendo uma caminhada em Tiradentes, eu percebi que precisava parar. Percebi que precisava parar e retornar, a despeito de querer muito concluir a caminhada e chegar ao destino final.
Quem me conhece sabe que adoro trekking, tenho um bom preparo físico e não sou muito de desistir fácil das coisas que eu quero e me proponho a fazer. Mas eu não havia dormido muito bem à noite e o forte ritmo imposto ao grupo pelo guia que nos liderava logo no início da caminhada, num terreno bastante íngreme, fizeram parecer aquele trajeto penoso demais.
O sol já era o das dez da manhã, eu transpirava como uma tampa de panela e as pernas trêmulas e o coração acelerado feito bateria de escola de samba pediam pausa. Consegui seguir assim por quase uma hora, quando decidi parar e retornar. Aquele não era o meu ritmo, aquele não era o meu jeito de caminhar.
Gosto de andar com passos acelerados porque eles ensinam a consciência do corpo. Mas gosto também de contemplar a paisagem, a vegetação, os sons da natureza. Fotografar alguma curiosidade no percurso. Se continuasse naquele ritmo, ia penalizar demais o meu corpo e a minha experiência de fim de semana, além de estragar o passeio dos colegas ligeiros que acompanhavam.
Voltei descendo sozinha os quase dois quilômetros da Serra de São José em silêncio, tentando respirações profundas, num misto de frustração e alívio. Cheguei ao centro da cidade filosofando sobre as trilhas. Ali na praça, pedi uma cerveja bem gelada enquanto pensava na vida.
De vez em quando a vida é como a trilha, e nos coloca diante de encruzilhadas. Dois caminhos opostos, mas aparentemente semelhantes. Por qual seguir? E se? A vida também oferece atalhos para quem sabe reconhecê-los.
Outras vezes, ela impõe desvios não planejados na rota inicial. De vez em quando cai barreira, chuva e raio. De vez em quando o único trajeto é caminhar sozinha num túnel fechado, sem saber quando termina o medo e a escuridão.
Por vezes temos que nos proteger do clima e do ambiente ao redor, nos desvencilhar do mato, do cansaço, do mal-humor, das neuroses. Temos que enfrentar as quedas. Sim, elas acontecem com bastante frequência.
A gente aprende a andar em terreno de pedra, cascalho, areia. Em terra molhada, a gente pisa onde tem mato para não escorregar. A gente aprende a andar em dunas velhas, que são firmes e sólidas. Já nas dunas novas, macias e fofas, feitas pela ação constante do vento, temos que ter técnica no pisar para não atolar.
A vida exige perseverança para continuar. A vida é movimento, tentativa constante de se equilibrar no precário. O sentido da vida é mesmo o próprio percurso e não o destino final.
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