Eu não sou fã da Xuxa. Nunca fui. Não acompanhava os programas na TV, nunca sonhei com o
universo que ela construiu na telinha e nem me emocionei com naves, escadarias etc. Já
adolescente, não me interessava pelas coisas de crianças. Mas vamos lá!
No sábado, o programa Altas Horas, de Serginho Groisman – uma das poucas atrações da TV
brasileira que vale realmente a pena – fez uma homenagem à modelo e apresentadora, pelos
seus 60 anos de vida. E, não posso negar, ela tem muitas histórias para contar.
Eu não vi o programa, mas acompanhei trechos pelas redes sociais. E um deles será para mim,
inesquecível. O ator e diretor Silvero Pereira, cearense de Mombaça, aos 40 anos, fez um
relato emocionado e belíssimo de como ganhou o apelido de “paquita”, porque uns amigos o
teriam visto cantando e dançando os hits da Xuxa devidamente paramentado com as roupas
da mãe e toalhas na cabeça. O que era segredo tornou-se público. A história se espalhou no
ambiente escolar e, com ela, a referência jocosa.
Com certeza, Brasil afora, muitos outros Silvero Pereira se identificaram com Xuxa e dançaram
como as paquitas. Mas eu não sei se todos eles, depois de tantos anos, conseguiriam fazer o
depoimento do ator, que reconheceu a sua opção sexual para além dos medos da infância e
conquistou o seu lugar no mundo. Vou além. A beleza dessa fala não está apenas nas palavras, mas na serenidade de uma pessoa que se encontrou e se assumiu como é. A emoção era verdadeira!
Na minha infância, lá no Coral Infantil da Fundação Clovis Salgado, eu conheci uma menina que, décadas depois, reencontrei casada e com um filho. Ela também era jornalista. Depois soube que ela tinha se separado e vivia com uma companheira.
Um dia, apenas eu e ela, fiz a pergunta: “Como foi isso para você”? E ela me respondeu que não era feliz e que se tornou uma pessoa melhor e mais leve quando resolveu viver a sua verdade. Vendo o depoimento de Silvero Pereira repetidas vezes, me veio à memória essa amiga – hoje falecida.
Se posso hoje desejar alguma coisa, eu quero que essas amarras sociais e psicológicas caiam por terra, para que todos tenham o direito de viver suas verdades e ser pessoas melhores consigo mesmas e com os outros.
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