Fiquei muito tentada em falar mais sobre Carlos Drummond de Andrade, depois que escrevi a crônica da semana passada – “Carlos Drummond de Andrade – do calçadão de Copacabana à Itabira”. Como Carlos é instigante vou atrever-me a falar de seu universal poema José. Com certo acanho, pois existem muitas análises do mesmo. Ainda assim, trago o meu olhar e também o personagem verídico que inspirou o poeta. História que conheci na sua Itabira percorrendo o “Caminhos Drummondianos” – Ponto 14 “O casarão” onde tudo se inicia.
E agora, José?
A festa acabou,
A luz apagou,
O povo sumiu,
A noite esfriou,
e agora, José?
E agora, você?
Esses eram os ecos que escutava após a festa de 15 anos de minha filha. Momento de reflexão de uma mãe que já vê os filhos em busca de seus próprios caminhos. Em muitas outras situações o poema José ecoou em mim. E Drummond me interroga e questiona: qual o passo seguinte a ser dado? Para que lado vai? Pois, algo já está posto!
Mas quem foi José? José existiu na vida de Drummond, ele mesmo se vê no José?
Carlos tinha um irmão chamado José. Esse enamorado de uma prima a pede em casamento. Alianças no dedo, mas José espanta a noiva – iria colocar barras de ferro na frente de sua futura casa para que ninguém a visse. Apavorada com o ciúme de José, Lili – a noiva – recuou e desfez o noivado. Nosso poeta transcreve para o papel o desolamento e carência do homem:
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou
o dia não veio…
Com esse real devastador que abateu José, ele busca uma saída e para onde? A porta de fuga? O mar? A morte? Minas? Não há nada. E agora?
Com a chave na mão
Quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou,
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
E Drummond enxerga uma saída: marcha, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Na genialidade de Drummond, José, seu irmão, se eternizou e tornou-se qualquer um de nós em momentos de frustações e desolamento. Quando uma questão se põe: para onde?
Ps: A história de José pode ser lida em mais detalhes no livro: “Caminhos Drummondianos” dos autores: Dadá Lage Lacerda, Ricardo Shitsuka e Dorlivete Moreira Shitsuka.
Mário Sérgio Todos os preparativos, naquele sábado, pareciam exigir mais concentração de esforço. Afinal, havia…
Rosangela Maluf Gostei sim, quando era ainda criança e a magia das festas natalinas me…
Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Com a proximidade do Natal e festas de fim de ano, já…
Peter Rossi Me pego, por curiosidade pura, pensando como as cores influenciam a nossa vida.…
Wander Aguiar Finalizando minha aventura pelo Caminho de Santiago, decidi parar em Luxemburgo antes de…
Como é bom ir se transformando na gente. Assumir a própria esquisitice. Sair do armário…