O número tem variado, mas mesmo se fosse uma pessoa em regime análogo à escravidão no Brasil já seria demais! No caso mais recente, no Rio Grande do Sul, com três vinícolas de renome, mais de 150 pessoas que estavam fazendo a colheita da uva que vira vinhos, sucos e brindes nas celebrações de milhares de consumidores estavam vivendo o inferno na terra. E só foram descobertos porque alguns conseguiram fugir do local em que eram mantidos. Que tempos são estes que vivemos?
Será que as três empresas envolvidas nesse escândalo não sabiam como os terceirizados eram tratados pelos contratantes? Como uma indústria não tem controle da qualidade dos serviços de seus fornecedores nos dias de hoje? Será que, depois de tamanha e péssima repercussão, elas vão mudar de conduta? E, por outro lado, será que outros setores econômicos também vão assimilar alguma coisa positiva com esse caso?
Não sei! Não duvido que os casos do gênero continuem acontecendo no Brasil, onde o conceito de humanidade anda esquecido, juntamente com o respeito e o limite para as relações de trabalho, pessoais e sociais. O caso da chacina após um jogo de sinuca “a valer”, as crianças mantidas em cativeiro em Belo Horizonte, os inúmeros casos de mulheres que estão morrendo nas mãos daqueles que juram amá-las são algumas das provas de que há pessoas que não se reconhecem como tal e nem aos seus semelhantes.
Dessa tal “nova ordem mundial” liberal eu quero muita distância. A vida tem valor e o outro também merece o brilho do sol, como qualquer ser vivente! Afinal, o sol nasceu para todos. Não há cidadãos de segunda ou terceira classe, gente que pode ser escravizada ou receber uma pressão insana no trabalho porque “é assim que funciona”.
A escravidão moderna infelizmente não habita apenas em locais de difícil acesso, nas colheitas de uvas. Esse fenômeno está mais perto que se imagina, no dia a dia de trabalho nas capitais, onde patrões se fazem de parceiros para tratar seus funcionários como cana de açúcar, que passa no moedor até a última gota do suco. No caso, seiva, saúde, viço, inspiração, criatividade…
É preciso tomar um rumo diferente. Inaugurar um novo tempo com respeito e cuidado com o outro. Deixar de lado a superioridade relativa que acaba no crematório ou cova do cemitério. Se todos são iguais, têm direitos que precisam ser considerados e, entre esses, alguns que são humanos como o do trabalho digno para uns e a possibilidade de colocar na mesa da família produtos sem manchas de sangue, para outros.
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