Sem falso moralismo é fácil olhar em volta e ver que o carnaval é a grande festa brasileira. Espaço para produções com direito a confetes e serpentinas, purpurinas, muitos brilhos e cores. Também é o momento da fantasia assumir o lugar onde está o comando punitivo e consciente do Eu.
Assim, no Carnaval a alegria dá vasão e proporciona abertura para caída do véu que a censura do Super Eu encobre. Momento de expandir a fantasia social que cada um escolhe e assume no seu dia-a-dia. Isso para alguns, pois há aqueles que o véu é tão espesso que nada pode ser visto. Para quem não quer enxergar, ouvir e falar, ficar na censura é a única coisa restante além de ser ranzinza. Mas há advertência de que “ver “o que está por trás do véu da consciência é salutar.
Mas, é quarta-feira de cinza e o que subtraímos disso?
Vera Iaconelli explicita na sua crônica O Carnaval é o futuro que “desejar algo diferente do que a vontade consciente nos impõe é estranhar-se, portanto a coisa não vai sem angústia”. A psicanalista marca esse lugar do carnaval onde o jogo amoroso está no palco e nas ruas. Espaço temporal e social onde a fantasia, o mostrar-se e ser visto na diversidade é lema (ou necessidade, não sei ao certo). Vários estilos e suas maneiras de amar tomam os cenários das cidades. O que torna o Carnaval insuportável para muitos, pois precisam ficar velados.
Se a quarta-feira de cinza é cinza ou colorida para os foliões, dependerá de como foi a ética do desejo manifesto nos dias do Rei Momo, e, de como ela tomará corpo no corpo e sobreviverá a realidade dos sujeitos. Fantasiados de homens ou mulheres num cruzamento inverso ou não, com amores fluído ou não, sairemos lucrando se o diálogo abrir durante o intervalo entre os Carnavais. A fantasia que o Rei Momo proporciona sacode os sujeitos não somente na folia, mas em conhecer-se. Muitas vezes revirando a pessoa do avesso, o que não é ruim. Suportar o saculejão fará bem, pois viver na repressão é muito triste e danoso.
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