Existem coisas que não existem até encontrarmos as palavras certas para dizê-las.
São incômodos inominados, sensações estranhas que flutuam em nossa mente sem terem um rosto. Sentimentos obscuros que batem à porta da consciência, mas não possuem senha para entrar. Ficam ali, fazendo volume e incomodando. Não os chamamos pelo nome.
Muitas vezes, são confundidos. Chamados da palavra errada. Isso gera discordância e não transmite a informação adequada.
É muito importante encontrar as palavras. Os nomes das coisas. Mas é difícil. Requer tempo, examinação, pensamento. Requer um amadurecimento da situação estranha que se vive. Talvez partilhar com alguém, treinar os encaixes até que algum bata.
Se não denominamos sentimentos, eles ficam no limbo e nos desnorteiam. Causam ansiedade. Tristeza. Não lhes damos um destino. Consomem nossa energia sem conseguirmos encaminha-los ao seu devido departamento.
Às vezes, é preciso um dicionário. Um certo silêncio. Livros e diálogos para comparar histórias e descobrir algo semelhante em outra narrativa. É preciso estar aberta ao entendimento. Suportar o incômodo por um momento até que ele seja pescado para a clareza.
Talvez por isso, cura-se pela fala. Cura-se também pela leitura, pela escrita, pela reflexão e pela observação do mundo. É muito importante achar as palavras.
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