Esses dias, me deparei com aquele djavú que, creio eu, todas nós algum dia já passamos por essa sensação de ter estado nesta vida. Tão sucinta, naquele momento vivenciei o assombro da perda da voz. Dialética. Canto. E para meu espanto, djavú sobrevoou no exato dia em que eu havia de tomar uma decisão: Sair da inercia do vício, ou melhor, viver pela inesperada despretensiosidade da recompensa.
Nos alimentamos e sobrevivemos à sua espera. Vicio é sinônimo de recompensa imediata, ou pelo menos, a curto prazo. Nos viciamos no dinheiro pelo falso olhar de bem-estar que ele pode causar. Nos viciamos no ilícito e lícito pela imagética sensação de independência e grandeza que experienciamos a ter. Nos viciamos no outro pela falsa ilusão de sopro aos novos ouvidos. Tudo se torna tão viciante que criamos dependência ao ponto de não estarmos em espaços que não aqueles que nos remetam alguma sensação tão viciante quanto.
A contradição do vício é que ele expande a nossa sensibilidade de prazer momentâneo, como também arranca aquilo de mais precioso, deixado como memória de nossos ancestrais: viver em harmonia com o que nos mantém vivos, embora nos bastamos só. Esperar por essa falsa recompensa é também esperar por suicídio lento.
Os desafetos e conflitos territoriais começam a tomar corpo na vida privada. Aprendemos por tantos anos a se enroscar nas armadilhas – daquilo que de algum modo nos faz mal – que quando é hora de se desprender e deixar ir, temos uma sensação de que uma parte de nós também se vai. Digo, falece e se esfarela para reconstruir um novo sentido.
Culpabilizar o próprio sistema do capital por isso seria uma forma de autossabotagem. É além. Vicio é um espaço-além do modo de produção e consumo em massa. Ele se encontra na raiz da mente humana e se desvencilhar de todos os vícios significa reabitar o nosso ser selvagem.
E você: deseja reencontrar o selvagem que lhe habita?
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