Silêncio. Em um mundo tão turbulento, disrítmico, cardíaco, pulsante, necessito de silêncio. A humanidade sempre esteve a postos do naufrago, insurgente a espera de palavras. Não digo que as palavras não sejam singelas, embora o silêncio ainda me encante mais. No silencio se encontra as maiores dadivas dá vida.
Quantas vezes você já escutou a si?
Ao criarmos vida, o choro é o primeiro aceno para o nascimento. Nas primeiras palavras, ainda criança, a comoção toma conta da parteira de nosso ventre. É necessário se comunicar. As palavras, embaralhadas como decifras de cartomantes, nos põem numa função penosa de sempre estarmos atentos e fortes. Nosso comportamento por si só sempre se encaminhou à palavras. Criamos dicionários. Teorias. Utopias. Com o ato da fala, se carrega luta e resistência, mas também, violência. A todo instante pensamos e ansiamos sermos ouvidos. Talvez, seja uma maneira de dizer: “Estou aqui”.
Por si só, o silêncio para a humanidade traz medo.
Em uma mesa de bar, entre copos lagoinhas enchidas pelo garçom, cantarolamos para a mesa ao lado. Falamos sobre conspirações e devaneios. Nem um segundo a mais. Não nós permitimos se quer apreciar os olhos castanhos que dividi o nosso olhar para a conexão. No almoço de domingo, em meio aos altos risos, sorrisos e contos das histórias passadas, não reparo no corte desfiapado de dona Elza, Sr. Rato e Dona Irene. Apadrinhados do samba e do bolero. Não os reparei e hoje sinto afago na saudade por não os ter aqui.
Não me silencio, embora silencie o outro por não sabermos escutar. Nossos sentidos são perceptivos e ativos para aquilo que queremos que o sejam. Não nos escutamos porque a voz do outro é sonoridade para nossos ouvidos. É um colo quente para a falta que a dentro de si e que não se deseja curar.
Talvez, o silêncio trás medo pela etiologia da solidão. Ser só. Não se permitir a navegar pelas águas profundas entrelaçadas em si. Não se permitir a presenciar o passado que retorna a vida, nessa invenção chamada tempo.
Silêncio é escutar a si. É fazer morada na criança que necessita de atenção. É afrouxar o peito apertado e fazê-lo de ideias. É pincelar em canção o vento que não se escuta, apenas o sente. É ser frio no calor. É ser firmeza quando a dor bate na porta pedindo pra entrar.
E se fossemos como a lavadeira que enxuga seu pranto, ri de si só e se ergue na noite escura, seríamos mais felizes.
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