Quando muito criança, de um lado, sempre ouvia: “A tecnologia vai mudar o mundo”. Do outro, só havia cochichos, resmungos. Era um abismo de assunto sem vez. Diziam sempre que “política, religião e futebol não se discute”. De fato, não se discutiu. Alienou. Corrompeu o obvio.
Após a devastação de um sistema ditatorial que aniquilou nossa existência, resistência, esperava-se que, enquanto seres políticos, faríamos escolhas corretas para sobreviver. Nos despejaríamos em informações necessárias e verdadeiras para ansiar nossos desejos. Não era atoa, os gritos pela aclamada “Diretas já”. Se endireitou e a democracia floresceu. Naquela época as redes de comunicações se chamavam “data povo”. Povo ao poder.
Democracia. Deriva-se do latim, Demokratia. Separação de Demos, “povo”, e Kratos “Dominio, poder”. Poder do povo, para o povo. Enquanto seres políticos, pensávamos que a democracia poderia nos dar o poder de escolha de fazer diferente. Teríamos nosso direito arbitrário, mesmo que entre o obvio e o pacato. Entre a esperança de dias melhores e o Juízo final. Sim, seria. Seria se não fosse a própria inimiga, desalmada, desconhecida: A rede.
Não quero lhe falar do que aprendi em livros e nem me atentar nesse momento em quem a criou. A resposta está nas nossas mãos. Sabido ou não, fato é que, após 2012, com o tsunami conhecido como Revolução 4.0, a tecnologia modificou o comportamento humano da cabeça aos pés. Nos conheceu tão bem quanto nosso próprio eu. Nos persuadiu a acreditar que, não era mais necessário relações com o povo. Tudo estava a milimétricos segundos de nós. Aquilo que nos tampava o ouvido e a boca, naufragou nas nossas mentes em forma de desinformação.
A bicharada correu solta. Saíram da gaiola. Tornou-se terra de ninguém. Muito menos terra que os seres povoam. Não se escuta, não se entende. Somos silenciados a cada milésimo pela imagética sequência numérica de fios que correm soltos pela caixa. Nos programam a acreditar em inverdades, recortes e desvios. A própria rede robótica criou voz ao inominável. Daquele que vinha do desconhecido, repulsante, para se eleger e tornar a própria caricatura ideológica Brasileira. A própria ideologia que se respalda no gênero que tanto se fala pelo abominável, é a própria contradição da ideologia política e de ‘caráter que o criou. Ideologia essa que não haveria de ser construída sem o próprio circo da alienação: Redes sociais.
Midiáticos, se viram com o próprio poder nas mãos para matar. Aquele que era idolatrado, teve seu próprio pescoço dilacerado pela a pátria que o traiu. Guinando o Trumpismo de 2016 pela desconhecida e temida “Fake News”, o Brasil nessas eleições se vê com a própria arma de domesticação. Seres ao mesmo tempo selvagens, mas, que estão engaiolados invisivelmente. Não existe democracia onde quem dita as regras desse jogo é o desconhecido. Não se vê, não se toca e nem se escuta. É como o diabo vestido de Deus a caminho da ressureição.
E a cada noite que me deito, me pergunto: O poder ainda emana o povo ou as redes são o próprio poder?
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