Corre nas redes sociais, o vídeo de um homem que, em um clube de tiros, usa a arma de fogo para exibir-se em fotos e, como se estivesse com um brinquedo caro e inofensivo na mão o rodopia no ar e aponta para o rosto de uma pessoa que o acompanha. Rapidamente, o instrutor recolhe o revólver e conversa com o cliente para conter-lhe o êxtase de um poder fictício que tem sido alardeado aos quatro cantos como vantagem, diferencial e garantia de poder e de proteção.
No Brasil da atualidade, armas de fogo passaram a ser vistas como bens de consumo por uma parcela da sociedade. O Anuário de Segurança Pública 2022 aponta que, até julho deste ano, havia 674 mil certificados ativos para CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores) no país. Desde janeiro de 2019, o crescimento foi de 474%, o que coloca mais armas nas mãos de civis que nas instituições do Estado que foram criadas e são mantidas para garantir a segurança pública.
Para além dos depoimentos inflamados que defendem o armamento da população, o que se vê no noticiário são falhas grotescas que podem acabar com aquelas mesmas famílias que, teoricamente, estariam mais protegidas com a presença de armas em casa. No dia 23 de setembro, por exemplo, um colecionador deixou uma pistola pronta para ir a um clube de tiros. O filho de três anos de Macapá achou o artefato e acidentalmente, atirou na cabeça do irmão gêmeo que chegou em estado grave no hospital.
Na semana passada, 26, o Brasil acordou com um atentado a uma escola cívico-militar do oeste da Bahia, cometido por um adolescente de 14 anos, filho de subtenente aposentado da PM. Ele usou a arma do pai e um facão, matou uma colega cadeirante e só não deixou mais vítimas – como pretendia – porque acabou alvejado por quatro tiros.
Sem falar no caso do barbeiro que acabou atirando acidentalmente nas partes íntimas enquanto trabalhava e da pistola do ex-ministro da educação e pastor, Milton Ribeiro, que disparou sem motivo aparente no Aeroporto de Brasília em abril, como se esse equipamento funcionasse sozinho.
A verdade é que sobra vontade de se auto afirmar, mas falta preparo técnico e psicológico para portar e usar uma arma de fogo. A ideia de risco parece ficar em segundo plano, como se essas pessoas estivessem em um filme policial, com balas de festim no qual, ao final de cada cena, atores e figurantes se levantam e vão tomar um café. A realidade, no entanto, é outra. Basta uma pequena falha para perder muito mais que se imagina, e não há cara de choro, arrependimento ou pedido de desculpas nas redes sociais capazes de recuperar vidas perdidas.
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