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Apesar de você

Raniere Sabará

“[…] Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar […]”

Essa grande canção de Chico Buarque, marcada pela euforia e medo na ditadura, me faz refletir sobre o sentimento presente nessa semana que se inicia. No próximo domingo estaremos prestes a povoar as ruas da felicidade, ou não. Fato é que, com as eleições batendo na porta, o medo também nos alimenta. Mãos soam frio, insônia, falta de apetite. Distopia de sair nas ruas caracterizadas.

2018-2022. Quatro anos vividos como se fossem quarenta. Sim, por coincidência, é o mesmo sentimento vivido em 1984 pelos Brasileiros. Repressão. Alienação. Descontentamento. A extrema direita volta a tomar conta das ruas e os movimentos sociais começam a perder força. Para a Amazônia, falta ar. Para os pacientes, assolados pela Covid-19, também. Para a cultura eu lhe dou sucateamento para se expressar. Para a Ciência, trago um toque de silenciamento para trazer a verdade. Para as mulheres, forneço insalubridade, feminicídio e violência doméstica. Para os periféricos, coloco a policia a mando da milicia e da dominação de classes como proteção. De fato, vocês estão protegidos, ele disse.

Entro sem pedir licença para a natureza e passo a “boiada” para alimentar os pobres com o restante do osso da carne que alimenta minha família. Dou auxílio aos pobres e crio a casa verde-amarela para mostrar que a nossa bandeira é da superfaturação e escândalos de corrupção. Compro quantos imóveis forem precisos para me solidarizar com as famílias que as Mineradoras destruíram e doo para quem precisa, minha própria família

Sou patriota e prezo pela diversidade e autonomia de escolhas, desde que não afete a minha virilidade frágil. Não sou homofóbico, racista ou sexista, até tenho alguns ministros que por baixo dos panos são me passam pano, mas, dou canetada se abrir o decreto de sigilo de 100 anos.

São tantas contradições que se fazem únicas por si só. É a própria imagem de um Governante que deslegitima todas as formas de humanidade. Não só ele, como toda a bancada legislativa que compactua com seus ideais. Ressalto que, essa eleição não se polariza somente na nossa última esperança de viver, mas, na conscientização sobre como nossas ações civis refletem no cotidiano. Não é necessário eleger somente Luís Inácio, mas também, reformar a política com mulheres, negros, indígenas, periféricos e figuras que estão à margem do social para que esse modelo neoliberal seja extinto e uma nova forma de produção em prol do desenvolvimento social seja dada.

O direito a expressão libertária que está na nossa própria constituição, não se faz ouvida em meio ao medo da perseguição e violência. São dois lados da moeda e ainda há quem diga que estamos nos reboliçando entre o “coisa ruim” ou “coisa pior”. Mas, há a esperança de dias melhores. Acredito que, na esperança dessa terra que povoa, que as ruas irão se encher de alegria, como alegoria de carnaval no próximo domingo.

De fato, nossa bandeira nunca mais será vermelha. O sangue dos corpos desumanizados escorridos pelas valas da democracia, ressurgirá como a força da existência, apesar de você, Jair Messias.

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