Aurora. Beleza rara de se ver. Tão sensível quanto a aurora boreal.
Aurora era um pássaro da espécie Agapornis, a grande sábia das conselheiras dos amores não correspondidos. Nomadeava pelas copas onde já não mais havia vida. Sem pretensão, pincelou seu ninho no beradero da mata escura para chamar de lar. Aurora se excitava ao ser tão atemporal.
Pela manhã, buscava alimento nos pequenos insetos que ali sobrevoavam. Ao se encher, saia avoejando pela cidade e ao se recostar na fiação duvidosa de santê, Aurora observava na imensidão aqueles amores. Sentia o cheiro da desilusão como o cheiro adocicado do café da padaria da estação. Era o seu alento do dia. Saltitava na corda dos barbantes elétricos até que avista Bartolomeu.
Bartolomeu, com cabelos alongados, chinelo arremendado e um cordão de proteção de tigre para lhe guiar, derramava lágrimas contidas ao abrir a carta de despedida de Noé, ou melhor, um guardado molhado de café caligrafado de rasuras: “Deixe-me ir, eu preciso andar. Eu vou por aí, talvez, vou procurar me encontrar e não me espere para o jantar”.
Aurora pousa no ombro de Bartolomeu e o consola com um canto sinfônico. Não era necessário dizer. O bico recosta no seu ouvido e aquele canto se tornou a melodia de banjo para Bartolomeu. Sem precisar dizer, Bartolomeu dobra um folheto no bico de Aurora para encontra-lo. Aurora tinha a certeza da volta dos amores. Com pés de três pontas, impulsiona seu voo e caminha pela estrada de Santarém em busca do amor não correspondido. Ao avistar Noé, Aurora abre suas asas para estabilizar pouso de modo que o folheto caísse na mão de Noé. Ele abre o rabisco e encontra uma carta de amor a pedido de sua volta. O sorriso entrelaçado em meio a euforia, foi um orgasmo profundo de esperança para Noé ao ler a clemência de Bartolomeu:
“Não há o que partir quando há de ser somente um. Meu encontro se encontra nos seus braços e, na tua partida, encontro o sentido da vida”
Ao cumprir seu destino, Aurora volta para mata. Era noite de lua cheia. Noite de contemplação e festa para a Bicharada. Nessa festa, Gêneses, a grande sábia do fogo e desejo da espécie de Agarponis, dança, dança e dança na ventania do céu. Aurora fixou seus olhos naqueles largos movimentos. Sentiu suas asas estremecerem como nunca antes visto. Suas penas mudaram de cor. Sentiu ali que se encantou por Gêneses.
Aurora assobiava porque sabia que seu canto sinfônico era uma forma de sedução. Como de se esperar, não se passou despercebido a sinfonia. Gêneses se aproximou. O clarão do drão alumiava a excitação daquela sintonia de trocas despretensiosas com uma pitada de segundas intenções. Aurora sentia como se já tivesse a conquistado. Contava com a sorte.
Aurora só não contava que a deusa do fogo e desejo da mata era a própria traiçoeira da desilusão. Gêneses sorriu e partiu sem ao menos se despedir.
E Aurora, foi o próprio amor não correspondido.
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