Eu sou.
Terra que povoa
Gato que corre na água
Sabiá que canta na mata
Cobra que vira saci.
Eu sou o início, meio e fim.
Recôncavo da corda que fura a pedra, uivando na noite escura.
O canto do bico-de-pau é um som pros meus ouvidos. Brinco, sorrio e crio imagens dos sons dos pássaros que estão no topo da copa, mas não os vejo. Eu sinto. As folhas secas, furadas, mirradas que caem sobre meus pés, tentam me dizer. Não sei ainda do que se trata, mas, as escuto. Uma mariposa pousa no braço. Volto pro presente.
Ali também, havia uma árvore de tronco fino, emboracarregava consigo no corpo vivo as casinhas de abelha para fazerem mel. Era tão atemporal. Tantas folhas caindo das arbóreas do parque que parecia um sinal do céu me dizendo pra fazer como elas: se soltar e deixar ir. E quando elas se repousavam na grama, germinavam o solo que me sustentava.
Um gato ao dar milimétricos passos atentos ao se aproximar, sempre com os olhos fixados na minha reação, me lembrava a onça pintada na mata protegendo a sua tribo. Um passo a mais e a carne devora. Ela só não mata aquilo que a mantém viva: natureza. Se banha no sol do meio dia como a luz que brilha na noite escura.
Estar naquela mata era como uma orquestra sinfônica de sensações. Cada agudo ouvido ao recostar meu corpo na seringueira, era um suspiro sem aparelhos para me fazer renascer. A raiz de tucumã evocava a força do eu feminino, do oraculo do espirito naufragado em costa da ilha.
Tucumã. Arabutã. Se firma em meio a nevoeiro. Vendaval. Fechei meus olhos e desejei que meu corpo se reconstituísse de força como Terra-firme. Desejei ser a raiz que penetra e ecoa como o canto dos pássaros.
Abri meus olhos e vi: a natureza está sempre em harmonia conosco. Sempre nós dizendo e aconselhando à sua maneira. Só nos resta estarmos no presente e ouvir o que ela tem a nos dizer.
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