Era às 17:30 de uma tarde ventosa. As nuvens contornavam o céu como se fosse chover. Buzinas, alertas e sons. Na calçada do ponto, com o ouvido miúdo aos sons, não reajo mais a escuta entre a frequência relativa do caos urbano. Me concentro para esvairir no vento. Meu corpo, por um momento, pretende estar inaudível. Paraliso-me para acalmar as batidas eufóricas do peito.
A espera do ônibus, correria. Um mar de cabeças procurando realento no aconchego do lar. A efêmera rotação da terra não poderia sustentar o pouco tempo que nos resta após o trabalho. Sento-me no último banco que me cabe em meio ao curto espaço com tantos corpos famintos por silêncio.
Pupilas dilatadas. Sinônimo de cansaço.
Feições tão apáticas. De fato, a apatia tomou conta da cidade. Apatia de não reconhecer o que sente.
Afunilo minha percepção para cada indivíduo sentado naquele espaço. Entre frestas, alguns, apreciavam a paisagem daquele final de tarde. Talvez, fosse a única alternativa para se manter acordado. Já para outros, o pôr do sol se tornava um presente tão distante em meio aos olhos que já não mais abriam à fadiga que tremulava a respiração.
Mãos prezas no pequeno espaço do corrimão que sustentavam corpos que não mais reagiam. Trabalho. Desgaste. Haviam grandes cabeças que fixavam sua atenção em telas. Os dedos rolavam as páginas em milimétricos segundos para ser mais exata, embora, o presente ali não existia. E então pensei: “será que em algum momento o presente existiu para esses seres que se perderam no tempo?”
Uma mulher, com seus vinte e poucos anos, foliava os escritos acadêmicos quando o motorista, bruscamente, freia repentinamente. Seu livro cai. As páginas se embaraçam e ela rapidamente limpa a poeira advinda do pisoteamento da superlotação.
Um homem de meia idade, derrama tímidas lágrimas ao desligar uma ligação. Enquanto o outro, ao seu lado, cantarola cantigas de João Gilberto com um sorriso sem pretensão.
O ônibus para. A alavanca para cadeirantes se ergue e abre-se espaço para um cadeirante se posicionar. Cordas se entrelaçam pelo seu corpo para sustentar a caixa de isopor carregada de bebidas para revenda. Final de expediente. Como forma de inclusão social, esse senhor oferecia o único lugar destinado-o para os demais que ali se exprimiam. Com um sorriso sucinto e cabisbaixo, sentia como se aquele espaço não lhe pertencesse. Aquela cena me paralisou. Não-reação.
Era um espaço tão cheio que se fazia único por si só. Cidade adormecida. Não se via e nem se escutava as margens do social, como as margens da Baía de Guanabara que adoeceu na carência de cuidado. Tentei decifrar todas aquelas feições. Não consegui.
Como um clarão, entendi que cada pedaço daquele grão de ser que estava a postos, também fazia parte da semente que habitava mim.
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