O político esperto convenceu-se de que uma visita à famosa rinha de galo da cidade lhe traria dividendos políticos, mesmo correndo o risco de ser flagrado por alguma batida policial em situação de cumplicidade com a contravenção penal.
Lá chegando, entusiasmou-se com o clima de disputa, muita gente, gritaria generalizada e todo mundo apostando dinheiro enquanto dois galos, um branco e outro avermelhado, encaravam-se na preparação do duelo.
O político perguntou quem, naquele mundão de gente, entendia mais de briga de galo. Apontaram um baixinho (sempre um baixinho) informando que ele sabia tudo e não perdia uma aposta. Qual dos dois é o bom?, perguntou o político ao baixinho, que respondeu sem pestanejar: é o branco, sem dúvida.
O político tirou da carteira todo o dinheiro que tinha e apostou tudo no galo branco. Quarenta minutos depois a luta terminava com o galo branco estraçalhado, sangrando muito e irrecuperavelmente caído no canto da arena, enquanto o galo avermelhado de afastava sem um ferimento sequer.
Você me sacaneou, perguntei qual era o galo bom e você disse que era o branco, reclamou o político com o baixinho. Mas ele é o bom mesmo! Se você tivesse perguntado qual é o perverso, eu falava que era o avermelhado, esclareceu o baixinho.
Sexta-feira, na virada do meio dia, eu subia de carro a Rua Salvino Pascoal, no centro de Itabira, quando vi um senhor aparentemente da minha idade, empurrando um carrinho de picolé. Menor do que eu e mais gordo, suava em bicas debaixo de um boné que pouco ajudava com um sol a pique e calor extremo.
Não parei pelas condições do trânsito e até mesmo por falta de saber o que fazer. Então comecei a pensar com meus fracos conhecimentos de matemática e de comércio de picolés. Sei que cada um é vendido a R$1,00 e que sua comissão não deve passar dos 20%. Se ele vender 100 unidades a cada dia sem falta um dia sequer, ganharia R$600,00 no mês. Isto para um trabalho extremamente estafante e inseguro, sem proteção e desumano para uma pessoa próxima aos 70 anos.
Faltou-me iniciativa para fazer alguma coisa e segui meu rumo, mas três dias depois continuo amargando uma ressaca incurável da vergonha de, muitas vezes, reclamar de uma vida que nem sei se mereço e que está acima da de muita gente que já fez mais por merecer.
A imagem do vendedor de picolés não me sai da cabeça. Que Deus o proteja e me perdoe.
Nunca tive problema com sogras. Sempre me relacionei muito bem e de todas guardo boas e saudosas lembranças. Um único caso de constrangimento marcou minha convivência com sogra. Era aniversário dela, me aprontei com um presente embaixo do braço e fui todo alegre e serelepe para a festa. Transformei minha chegada num momento cinematográfico, mas sincero.
Atravessei o longo corredor à procura da sogra e quando a encontrei com seu sorriso tímido, iniciei um discurso que encheu de lágrimas seus olhos azuis. Terminada a homenagem, entreguei o presente e lasquei na sogra um abraço apertado de genro fã e amoroso.
Fui mal. Percebi no ato do abraço que algo de errado acontecera. Ainda abraçado à sogra, notei seu desconforto. Havia exagerado no aperto e ainda não havia identificado um estalo que ouvira no momento mais apertado do abraço. Soltaram os colchetes do sutiã da minha sogra, pensei. Ela saiu correndo ainda mais sem graça e eu me desmontei numa cadeira irremediavelmente constrangido. Isto só acontece comigo. Se contar, ninguém acredita.
Arrebentou o sutiã da minha sogra no abraço de feliz aniversário. Que vergonha!
Em poucos minutos outros convidados chegaram e ninguém lembrava mais do incidente. No dia seguinte, voltei à casa da sogra para me desculpar. Ela não estava. O filho a levara ao hospital e de lá telefonara para dar a notícia. Dona Mirtes estava com duas costelas quebradas.
Mas como? Uai, o abraço do genro fã e amoroso. Nunca me senti tão constrangido em toda a minha vida. E nunca mais dei abraço apertado em sogra.
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