Nunca fui muito chegada às bebidas alcoólicas. Na adolescência tomava Cuba Libre ou Hi-Fi bem devagar, pra não ter que repetir a dose diante da turma. Nos finais de ano ou em datas de comemoração importante, uma taça de champagne, ainda que muito distante de qualquer parentesco com a legítima bebida francesa. Nos almoços em casa, nos domingos de verão, um copo, às vezes dois, de cerveja gelada. Arak, com hortelã, era a única exceção. Por ser uma bebida com 50% de teor alcoólico, bastava uma dose pra me levar pra cama e pro melhor dos sonhos.
Com o tempo, fui aprendendo… O vinho branco da época era o Liebefraumilch, o famoso “leite da mulher amada” que meu irmão, Edu, abria aos domingos. Papai, entretanto, continuava fiel à sua cervejinha bem gelada. Cada um de nós tomava uma taça e passei a gostar sim, do vinho branco bem geladinho. Sempre uma taça, no máximo duas.
Muitos anos depois, convivi, por longo tempo, com um connaisseur de vinhos, tintos, é claro. Foi aí que comecei apreciar os Malbec, uma espécie de uva argentina com um toque especial, agradável. Entre todos, era o paladar que mais me deleitava e degustei inúmeras marcas não só desta uva como de várias outras, como a conhecida e apreciada cabernet sauvignon. Pinot noir, carmenère, tannat, merlot , experimentei todas, entre tantas outras.
Faz algum tempo que descobri o prazer de um rosé. Sem ligar a mínima pra quem faz pouco dele, passei a pesquisar marcas famosas para conhecer mais sobre o assunto. As menos famosas, pra identificar nas prateleiras das casas de vinho, e aquelas promoções imperdíveis que cabem no meu bolso.
Os vinhos podem ser classificados em três principais categorias: o tinto, o mais apreciado em todo o mundo, é resultado dos pigmentos encontrados nas uvas pretas, escuras. O vinho branco é preparado com uvas brancas, sem as cascas, daí a coloração levemente amarelada. O rosé é produzido com um tipo especial de uvas pretas, que liberam uma pequena quantidade de pigmentos, podendo ainda se diferenciar de acordo com o nível de açúcar, a quantidade de espuma e o teor alcoólico final.
O mais caro rosé do mundo é produzido na Quinta do ex- casal Brad Pitt e Angelina Jolie, situada na Provence, França. O jornal Le Figaro lhe deu um nome bem adequado: Rosé Super Star, e não é mesmo? Para se ter uma ideia, em 2015, uma garrafa do famoso vinho orgânico “Muse de Miraval” atingiu a bagatela de 2.600 Euros, num leilão – para alegria do Monsieur Marc Perrin, o enólogo da Quinta.
O segredo, segundo o ele, foi a fusão de dois tipos de uvas especiais: a Grenache, uma uva escura, com a Vermentino, uva branca usada para o vinho base. Posteriormente guardado em barricas de betão, o Muse de Miraval tornou-se uma verdadeira joia, pelo sabor inigualável e pelo preço astronômico.
Em terras brasileiras, contento-me com os chilenos, os argentinos, alguns da África do Sul e os franceses, para situações especiais. Os vinhos brasileiros são, em sua maioria, originados da Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul. Do Vale dos Vinhedos vem, também, a maior parte dos vinhos tintos e brancos produzidos no país.
Sendo assim, tenho sempre na geladeira uma garrafa ou duas dos meus rosés preferidos. Posso passar semanas sem nada querer tomar, mas pode ser também que eu me presenteie com uma tacinha (ou duas!) enquanto preparo uma massa ao funghi, ou o carbonara que tanto me agrada.
Dona do meu tempo, das minhas vontades e do meu paladar, posso tomar uma ou duas tacinhas durante o almoço, apreciando cada gole, sentindo as variações em cada papila gustativa, e apreciando enormemente o leve sabor. Chega a ser mágico!
Mas o melhor de tudo, o mais inusitado, a maior das surpresas foi descoberta faz pouco tempo!
Com a pandemia, em meu isolamento parcial (ou total para alguns) descobri que as mudanças nos hábitos e horários me levaram a unir dois prazeres inigualáveis. Passei a me deitar mais cedo, lendo até a hora que o sono chega. Banho quentinho, sob as cobertas, um bom livro no colo e uma tacinha (ou duas) do meu queridinho recém-descoberto.
Se antes só pegava no sono depois da meia-noite, hoje me deito mais cedo, leio pelo mesmo tempo, mas o sono me chega antes. Confesso que, apesar de ser um momento especial, não são todas as noites que me sinto desejosa de compartilhar minha leitura com uma taça (ou duas) do meu vinho preferido.
Que mais posso querer da vida? Agradeço muitas vezes pela imensa paz que me invade. Pelo imenso prazer que a leitura me proporciona, sempre. Pelo relaxamento gradual, lento e doce até que fecho o livro. Então, desligo o abat-jour, o celular e vou para os braços de Morfeu.
Boa noite e até amanhã!
A série “Presentes que me dou” contém dez crônicas, todas elas vivenciadas em tempos de pandemia. As situações rotineiras adquiriram novo significado em tempos de total isolamento social. Daí esta série, publicada aos domingos pelo Blog Mirante, do jornal Estado de Minas. Escritas por mim, as crônicas são um convite à leitura da nossa realidade pós/durante a COVID!
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Mais um bate-papo delicioso!!! Me identifico em muitos pontos com vc, inclusive o vinho rosé e a mudança no horário de dormir!!
Adorei mais um!!