Taís Civitarese

A morte ronda lentamente. Ela já está aqui. Sinto sua presença nas sombras. Nos silêncios. Ela está dormindo, mas em breve, despertará.

Impossível não senti-la. Não temê-la. O julgamento já foi firmado. Ela avança um passo a cada dia. Ela nunca irá embora.

A morte é amarela e cinza. Assim como a doença. Ela é úmida de choro. Aguda. Ela é fria e cortante. Ela ceifará um ser amado da vida.

Ela começou faz muito tempo. Aconteceu no dia do veredicto, em uma sala de médico. Em um espelho que mostrava a face consumida. Em um papel que acusava números desarranjados.

A morte tem muitas caras. A morte da minha avó foi um telefonema. Não ouvi barulhos. Foi uma cena imaginada. Esta morte de agora se desenrola faz meses. Ela come esperança. Esvazia forças. Desfaz a alegria. Ela implanta o medo.

Diante da morte há uma pessoa. Há uma história com seus muitos feitos e afetos. A pessoa é maior que a morte. A vida é maior que a morte. A obra é maior que a morte. Tudo é maior que o diagnóstico.

O amor que perdura é maior que a morte. A morte é pequena. Ela é um detalhe. Ela é comum a todos em seu trajeto no espaço-tempo. É só um ponto na cronologia. Tudo o que veio antes é infinitamente maior. O que veio antes viverá apesar da morte. Viverá.

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