Num clima intimista, de afetos e diálogos onde o espectador entra em cena e faz parte do espetáculo “Bordados”. A peça do Grupo Amok de Teatro é um convite para entrar nessa conversa de mulheres árabes. Fui com mais três amigas e na entrada fomos surpreendidas com a pergunta se queríamos participar do chá. Explicaram que os primeiros espectadores poderiam sentar onde havia mesinhas e que um chá seria servido. Aceitamos, claro! Avisaram sobre o aspecto intimista da peça, e, assim, fomos coadjuvantes e testemunhas da delicadeza do diálogo das seis mulheres árabes em diferentes idades – da neta a avó.
Sentadas na extensão do palco, em uma mesinha com um jarro lindo e cinco copos para servirmos, ficamos a escutar e tomando a bebida oferecida. Nessa sessão de chá árabe, esse feito de hortelã e erva-doce, as mulheres se interrogam, riem e choram. Poderia ser um grupo de mulheres em qualquer parte do mundo, pois as questões são as mesmas. No Brasil o mais provável o é que estariam envolta de um cafezinho com quitandas.
A cena se desenrola inicialmente com a mais jovem – a neta, folheando um álbum de fotografias antigas e relembrando as sessões de chá na casa da avó. Suas conversas giram entorno de temas universais: o amor, a família, casamentos, sonhos, a tradição e a modernidade e sobre a morte. Uma fala da avó chama minha atenção, ela diz: “o menor dos nossos problemas são nossos véus”. Referindo-se aos constantes debates sobre a obrigatoriedade de alguns países árabes em imporem o uso do véu que cobre a cabeça das mulheres.
Lendo sobre o Grupo Amok de Teatro, apontam que: “ele busca um rigor formal e por uma intensidade que se afirma no corpo do ator, como sendo o lugar em que o teatro acontece.” Presenciamos o que eles propõem e é no corpo das seis mulheres que tudo acontece. Suas expressões, risos, choros, dança, indignações, abraços, aconchego no colo dado pela avó a neta, enfim é um corpo vívido, expressivo e em movimento.
Tomamos o chá com nossas, que passaram a ser, amigas intimas. Após a sessão, continuamos nosso movimento num café anexo ao CCBB entre chocolates quentes, chás e mais conversas. Essas pareciam extensão das falas das “amigas árabes”. No café a prosa estava às envoltas das nossas próprias memórias e afetos. E assim, parece que estejamos onde estivermos, sempre estaremos com tema que são desse universo feminino. Em roda, em prosas entre risos e choros seguimos tecendo e bordando a vida.
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