“[…] São só dois lados da mesma viagem
O trem que chega é o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar […]”
Na viagem de volta a minha terra natal, essa canção de Maria Rita começa a tocar no carro, e, em meio as nuvens que vão tomando forma entre as paisagens pelos retrovisores, penso na metáfora da partida.
A espera pela chegada sempre nos anestesia como se o tempo por um segundo, parasse. Aguardamos ansiosamente a chegada por mais um verão. Esperamos pela janela os amores que se divagam, como a fumaça que sai dos vagões do trem da praça da estação. As mãos que soam frio com olhares que afrouxam a seriedade. A boca que tremula ao presenciar encontro de múltiplos corpos que se conectam em um só ser. O beijo que transcende a cosmologia de sua própria embarcação.
Própria sorte.
Em viagens despretensiosas pela vida, a chegada nos cria possibilidades imprevisíveis de refazer cada passo a caminho da emancipação. Entendi que os encontros são o ponto de partida para embarcar no navio do presente. Estar por inteiro, ser devaneio. Expectadora da própria alma utópica.
E quando os encontros se firmam, o medo assegura de que a hora da partida, em algum instante, estará por vir. Muito embora a dor da partida não seja um sentimento ruim, a sociedade constrói a falsa dicotomia de que a partida leva embora um pedaço de nós.
É como se perdessemos toda a leveza que aqueceu o peito na chegada. Como se a nossa existência dependesse exclusivamente da coexistência do outro. Que a felicidade só pode existir se não houver tristeza na partida… Partir.
Não que seja triste a dor da partida, mas, as despedidas, se encontram nas razões do coração que as próprias razões desconhecem.
E em meio a tantas metáforas, percebi que as despedidas, na realidade, carregam em si o simbolismo da mudança de novas estações .
Despedir é trocar a pele que já não te cabe mais. É partilhar as experiências que te fizeram ressignificar o sentido de viver. É ser afeto e acalanto para um novo recomeço. Doar para si. É se alegrar pelas memorias dos momentos que paralisaram o tempo na chegada. Se permitir a amar, mesmo que distante. Não precisar estar sob a presença carnal do outro para vibrar sua consecução.
Semear o plantio da chegada… Se permitir sentir que a partida, é contemplar a chegada de um novo ciclo e soltar a mão para que o tempo a leve para a caixinha das lembranças, como o pôr do sol no final de mais um dia, que nos manda sinais de um espaço além do que os olhos podem ver.
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