Tais Civitarese
João Pedro queimou a mão com mel. Penso neste acontecimento e concluo que trata-se de um dos paradoxos mais recorrentes desta vida. Aquilo que adoça também machuca.
O mel como causa de acidente. Mel aquecido. Calor e doçura, coisas notoriamente boas. Os dois foram veneno para a pequena mão do João Pedro, que teve a pele esfolada ao contato com um jato de mel quente.
Quantos e quantos curativos depois, a pele se regenera, rosada. O apuro, no entanto, está marcado.
João Pedro se queimou com mel. Assim como o amor também queima.
O mel veio quente demais. O excesso. O susto. A dor lancinante. O molho de água com gelo. A pomada. E todo o repertório de bálsamos para proteger a pele do pior, sanar o ferimento.
Calor e doçura provocaram o caos.
O mel não seria natural?
Natural é também a dor, o equívoco, o desequilíbrio entre as temperaturas. Natural é a fome, o gosto pelo açúcar.
A pele que era íntegra tornou-se um couro seco e quebradiço.
Ele urrou de dor.
Seu urro acordou a lembrança de que nada, nem mesmo o amor, é absoluto.