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A simbologia da bofetada

Will Smith desceu uma bofetada contra o rosto de Chris Rock durante a cerimônia do Oscar, e diversas análises surgiram. Um episódio de inaceitável violência, disseram alguns. Uma violência de um inaceitável episódio, disseram outros. Mera encenação, concluíram os mais céticos.

Fato é que o tabefe foi simbólico, seja ele real, fictício, desprezível, heroico, a depender do gosto da freguesia, que ainda consome uma solenidade decadente, atécnica e podre — o Oscar.

Como se sabe, há muito não se premia ali o melhor filme, mas, sim, a melhor campanha. Ganha a estatueta quem faz política. Mas isso é assunto para outra conversa. Vamos ao que interessa, vamos à bofetada.

Foi simbólica a bofetada de Will Smith por duas razões. A primeira, porque representa uma reação a um princípio tido por alguns como absoluto: a liberdade de expressão.

Ora, é lição comezinha a ideia de que o direito de um termina quando começa o do outro. Se o que digo, com fulcro no princípio da liberdade de expressão, ofende o próximo, passa a ser ilegítima a minha manifestação.

Vide os crimes de racismo, injúria racial, calúnia e difamação. Nada mais são do que limitadores da livre manifestação. Se um palhaço sobe no picadeiro para fazer graça com a dor do outro, isso me parece mais imbecilidade do que manifestação da liberdade de expressão, o que deve ser reprimido.

Mas a reprimenda deve vir na forma nada ­­cordial de uma bofetada? Pela ótica do direito, não. Mas, pelas próprias circunstâncias do fato, é possível relativizar a violência, e aqui está a segunda razão pela qual o cruzado de direita de Will foi simbólico.

A vedação à violência também não é absoluta. Até mesmo matar alguém pode ser dar dentro das quatro linhas da legalidade. Não raras são as circunstâncias que configuram a legítima defesa e o estrito cumprimento do dever legal. Do contrário, não haveria policiais armados nas ruas.

Eu mesmo detesto o tipo de comediante que Chris Rock representou no Oscar. Ele promoveu um humor burro, apelativo e idiota. A resposta a esse tipo de piada veio à altura — um Platf! cheio de simbologia.

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Tags: Artigo

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